Por Carlos Chagas

 

Por que Dilma cai muito mais nas pesquisas de opinião do que o Lula? Primeiro, porque ela é candidata, ele não. Depois, pelo fato de que o ex-presidente dispõe de uma carreira política com começo, meio e fim, este ainda indefinido, enquanto a atual existe apenas pelo que é, já que não foi, enquanto se ignora se continuará sendo.

Mais do que tudo, porém, os índices de popularidade de ambos diferem na medida de seu afastamento. O Lula não é mais o mestre-escola de outros tempos. Distanciou-se da aluna, seja por falta dela fazer o dever de casa, seja por não pretender ligar sua sorte à dela. Separados não estão, é óbvio, mas afastados, com certeza.

Não deixa de espantar o comportamento do primeiro-companheiro, de participar em separado da campanha pela reeleição da sucessora, indo ao Norte quando ela estiver no Sul, e vice-versa. Claro que se encontraram na semana que passou, em Montes Claros, Minas, como se encontrarão em outros palanques, mas cada vez menos. Dilma ressente-se da presença do Lula a seu lado, em praça pública, quando para ele são dirigidos os maiores aplausos e para ela uma frieza inegável.

Mais graves, porém, são os desencontros sobre a estratégia da campanha e do governo. Ele prega novas ações imediatas na economia, ela não deseja mudanças de vulto no setor. Para ele, Dilma deveria estar na rua há muito tempo, jamais deixando passar em braço, como deixou, o fim de semana que passou, quando não teve agenda nem de presidente nem de candidata. A forte gripe que a atinge deveria, para o antecessor, ser ignorada em prol da movimentação atrás de votos.

Não adianta tapar o sol com a peneira: as relações entre Dilma e Lula não vão bem, desde que as consultas ao eleitorado passaram a indicar a realização do segundo turno. Mesmo tendo o ex-presidente que submeter-se ao crivo suplementar de votação, nas duas vezes em que venceu, sua interpretação é de que Dilma poderia ter suplantado essa disputa cada vez mais óbvia caso tivesse seguido seus conselhos.

A emulação entre criador e criatura segue a natureza das coisas. Mas aumentou na hora errada. Durante os três primeiros anos de mandato, Dilma seguiu fielmente as diretrizes do Lula, até em termos de composições ministeriais. Agora, no final, é que pequenas divergências cresceram de tamanho. Justamente quando precisavam ser superadas, em favor de uma vitória rápida.

Coube ao PT contribuir para o acirramento dos ânimos. Irritados com o pouco espaço a eles dedicado nas coisas de governo, reagiram levantando a hipótese da candidatura do Lula, quando os números ainda favoreciam Dilma com a eleição no primeiro turno. Não vale discutir quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha, mas a verdade é que a sombra do segundo turno aumentou com a deflagração da campanha pelo lançamento imediato do Lula.

Esforços são feitos para uma reaproximação, mas dos dois lados pesa o fato perfeitamente natural de tratar-se de pessoas com sentimentos, amuos e idiossincrasias. Além de não faltarem os cultores da intriga, no governo de Dilma e ao redor do Lula. Jamais em rota de colisão, mas por certo afastando-se quando mais precisariam estar reunidos.

 

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