Por Carla Kreefft
A falta da análise de causa e efeito é sempre um grande erro, mas na política pode custar a sobrevivência. A informação de que reduziu o número de jovens de 16 a 18 anos aptos a votar mostra um equívoco das famosas manifestações de junho do ano passado, quando a juventude foi às ruas para protestar contra a corrupção e a baixa qualidade dos serviços públicos.
O voto no Brasil é obrigatório, mas para quem tem entre 16 e 18 anos é facultativo. Se o número de eleitores nessa faixa etária diminuiu, muito provavelmente é porque os jovens não se interessaram em se inscrever na Justiça Eleitoral. Os motivos do desinteresse podem ser vários, mas o fato é que boa parte da juventude brasileira não participará do processo eleitoral. E, não sendo eleitores, dificilmente os candidatos terão alguma preocupação em apresentar propostas voltadas para ela.
A maior parte do eleitorado brasileiro, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, é formada por homens e mulheres de 27 a 40 anos. Ou seja, são pessoas que estão na idade produtiva, disputam o mercado de trabalho, já estudaram e já estão constituindo famílias. Então, certamente, esse público será o que vai chamar a atenção dos candidatos.
Não há dúvida de que questões como mercado de trabalho, emprego, habitação, saúde e educação serão temas muito abordados porque se relacionam diretamente com a vida desse segmento do eleitorado majoritário. Mas onde serão debatidas as questões relacionadas ao eleitor mais jovem? Quem vai levantar e debater temas que são afetos a uma faixa da população que se recusa ir para as urnas? Provavelmente ninguém ou um ou outro candidato também muito jovem.
GANHAR SEM JOGAR
Lembrando uma máxima do futebol, que cabe aqui perfeitamente, não é possível ganhar jogo sem jogar. “Futebol é jogado entre as quatro linhas”. A juventude erra ao acreditar que vai mudar esse estado de coisas não comparecendo às urnas. Como o voto é obrigatório, os candidatos sabem que terão público, ainda que insatisfeito. Enquanto o voto for compulsório, a ausência dos jovens de 16 a 18 anos não vai fazer falta aos candidatos.
Não adianta ir para as ruas e deixar que alcancem os Legislativos e Executivos as mesmas pessoas que foram alvos das manifestações. Ninguém muda estrutura alguma se estiver fora dela. A inserção da juventude é importante e urgente.
Os jovens das décadas de 60 e 70 também foram às ruas. Alguns até pegaram em armas. Eles enfrentaram a ditadura da forma como conseguiram. Eles lutaram muito – alguns morreram e muitos foram torturados – para que a população pudesse recuperar o direito de votar e escolher os rumos do país. Em outras palavras, garantiram aos seus filhos e netos o direito em que a juventude de agora parece não estar interessada. (transcrito de O Tempo)
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