Por Gaudêncio Torquato

 

O tufão que inundou as ruas, no ano passado, com grupos em passeatas e depredações, cujas marolas ainda se fazem presentes aqui e ali, servem como biruta para mostrar aos candidatos a direção a seguir: ruas, becos, bairros, cidades. A lógica é cristalina: se o povo está nas ruas, os candidatos devem ir ao seu encontro.

O barulho social bate nas portas dos Poderes. Sob o clamor geral, aos candidatos se impõe a lição de casa: conhecer os problemas regionais; absorver as prioridades de cada compartimento da pirâmide e dar respostas adequadas e factíveis às reivindicações. A diferença de outros pleitos se escancara. Hoje, a percepção do eleitor é mais aguda.

O que motiva a contundente expressão social? Entre as hipóteses alinham-se: o sentimento da nova classe média C de que não alcançou o mesmo patamar da classe B; a sensação de que os ganhos obtidos se esvaem no ralo da inflação das ruas; a precariedade dos serviços públicos; o receio de voltar ao andar de baixo da pirâmide; a maré enchente de escândalos; em suma, a sensação generalizada de que o país gira em torno de si mesmo. Não é exagero aduzir que a comunidade nacional grita em uníssono: “Basta de mesmice!”.

 INDIGNAÇÃO

A indignação é solfejada por um conjunto formado por tipos variados de eleitores, entre os quais se incluem amorfos, emotivos, pragmáticos, locais, religiosos, esclarecidos/racionais.

Grupamentos de baixo nível de conscientização, que tendem a estender braços ao populismo, habitam principalmente o território que agrega 54% dos 142 milhões de eleitores que não chegaram a concluir o ensino fundamental. Constata-se, porém, que, mesmo na terra desse eleitorado, ouve-se acentuado teor crítico, a denotar menor dispersão e olhar atento.

O voto segmentado, direcionado, será mais volumoso que o de ontem, a refletir a organicidade social do país. Um bloco em ascensão é o do voto religioso; até comporta candidato próprio. O bolo eleitoral incha com o fermento das redes sociais. A virulência verbal recrudesce.

CANDIDATOS

Resta, por último, retratar a galeria de candidatos. O perfil predominante acaba de sair do forno do TSE: homem, branco, casado, sem ter concluído o ensino superior. Se considerarmos que a população brasileira é constituída, segundo o Pnad, por 47% de pessoas brancas, 43% de pardas e 8% de negras, a proporção de candidatos brancos supera o conjunto. As mulheres entram na arena eleitoral com apenas 29,7% do total de candidatos (7.410), apesar de constituírem maioria da população (51,5%). O painel de profissões mostra fatia maior de candidatos que se dizem empresários (9,3%), advogados (5,5%), comerciantes e políticos (deputados, vereadores).

O circo eleitoral abre suas cortinas para os olimpianos da cultura de massa – artistas e ex-jogadores de futebol –, que tentarão atrair as massas com sua fama. Sem o sucesso de outrora. Ao fundo, o eleitor insatisfeito parece gritar a frase célebre do cônsul de Roma, Cícero: “Até quando, candidatos, abusareis de nossa paciência?”. (transcrito de O Tempo)

 

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