Por Vicente Nunes /Correio Braziliense

 

Em tempos de eleição, vale tudo. Inclusive comemorar a inflação acima do limite de tolerância fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O governo, como já expressou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, está feliz da vida com os resultados mensais do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Na avaliação da economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, em vez de comemorar, o governo deveria se preocupar. “A inflação está longe de dar um alívio. É um paciente grave, que continua na UTI”, afirma. No 12 meses terminados em julho, o IPCA deverá cravar 6,59%, ou seja, ficará acima do teto de 6,50%. Isso mostra, segundo ela, o quanto o orçamento das famílias está apertado. O que está ocorrendo é um alívio momentâneo, resultado da fragilidade do consumo e do aumento dos juros promovidos pelo Banco Central — a taxa básica (Selic) está em 11% ao ano.

Diante desse quadro, é restrito o espaço para que o governo autorize a Petrobras a reajustar os preços dos combustíveis neste ano. O aumento só deve ser autorizado seu houver a segurança de que o IPCA do ano fechará abaixo de 6,5%. É questão de honra para o BC evitar o estouro da meta, o que o obrigaria a emitir uma carta pública se justificando e pedindo desculpas por não ter cumprindo a sua missão. “O orçamento da inflação está apertado. Qualquer fato atípico será fatal para que o índice fique acima da tolerância”, destaca Zeina.

 

LENIENTE COM A INFLAÇÃO

 

Certamente, o quadro poderia ser diferente e o sufoco do governo para cumprir a meta, menor. Nos últimos anos, a equipe econômica de Dilma Rousseff foi leniente no combate à inflação. Encampou a visão de que um pouco mais de carestia ajudaria a impulsionar o crescimento econômico. E não é segredo para ninguém que, em vez de avançar, o ritmo do Produto Interno Bruto (PIB) encolheu. São grandes as chances de o Brasil estar em recessão. “A inflação não aceita desaforo”, avisa a economista da XP.

Não é à toa que todas as projeções de inflação para 2015 estão em alta. Se os preços livres, puxados pelos alimentos, podem dar uma ajuda ao BC, os administrados pelo governo vão manter o custo de vida nas alturas. Para conter o IPCA — em julho, será o 12º mês de estouro da meta na administração Dilma —, o Planalto segurou, o quanto pôde, os reajustes das tarifas de energia, das passagens de ônibus e os preços dos combustíveis.

Como o ano que vem não terá eleições, será a hora do acerto de contas. Os governantes acreditam que, mais à frente, ao voltarem às urnas, os eleitores já terão esquecido do choque no bolso. E o discurso prometendo o país do sonho voltará com tudo.

 

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