Por Cristiana Lôbo

 

A pesquisa Ibope que comprova o potencial eleitoral de Marina Silva provocou reações imediatas nos comitês dos dois principais concorrentes à Presidência da República, Aécio Neves e Dilma Rousseff. Os dois preferem reagir já, antes mesmo de saber se a subida rápida e intensa de Marina representa um fenômeno eleitoral que vai até a urna eletrônica ou se é uma onda que pode passar em alguns dias. Todos avaliam que o quadro mais claro só será conhecido entre os dias 15 e 20 de setembro.

Nesta quarta-feira pela manhã, o ex-presidente Lula reuniu integrantes do comitê de campanha de Dilma para avaliar o quadro eleitoral. A avaliação feita é a de que, com Marina, o quadro eleitoral está alterado, e que Marina pode vencer as eleições.

A preocupação do PT, a esta altura, é segurar o eleitor de Dilma para evitar um fiasco maior. Mas, para o público externo, o discurso é o de que Marina está se beneficiando de uma comoção provocada no país pela morte trágica de Eduardo Campos e que isso deve passar. E que o maior prejudicado com a entrada de Marina no páreo é Aécio e o partido dele, o PSDB, que, pela primeira vez em 20 anos, deixa de polarizar a política nacional com o PT.

“Se não chegar ao segundo turno, o PSDB corre o risco de desaparecer”, disse um dos coordenadores da campanha de Dilma.Mas eles sabem que, se Marina mantiver o crescimento, é fundamental que Dilma mantenha-se no patamar de 30% para não permitir que a disputa seja definida no primeiro turno pois, nesse caso, seria péssimo para o PSDB, mas também para o PT.

Por isso, eles pretendem mostrar que o discurso de Marina em favor de uma nova política ou distante da política tradicional não fica de pé porque ela própria já foi vereadora, deputada estadual, senadora e ministra e, portanto, é uma política tradicional.

 

A partir de agora, Marina terá de sair do terreno do mito e vai ter de falar como alguém que vive a política tradicional, disse um petista que se recusa a comparar Marina a Lula.“Lula tem base social, Marina é só sentimento”, disse, observando que Marina chegou a este ponto por conta do noticiário em favor dela após a morte de Eduardo Campos. Este também é um argumento apresentado pelos tucanos. “Ela ficou mais de uma hora nos telejornais mais importantes do país”, disse o petista.

Publicamente, ninguém diz, mas em conversas reservadas petistas comparam a trajetória de Marina Silva à de Fernando Collor em 1989. “Ela tenta negar a política”, disse o petista, ressaltando, porém, que não é possível comparar as pessoas, mas Collor tinha um programa de governo por trás da candidatura, “um programa neoliberal, mas tinha”, disse ele. Para o PT, Marina tem apenas o discurso de negar a política, mas ninguém sabe o que ela faria no governo.

“Para quê falar em números? Candidatos falam em números na campanha e não cumprem no governo”, disse um partidário da campanha de Marina Silva. Segundo ele, o objetivo de Marina é mesmo o de mexer com a emoção e deixar para tratar de programa de governo e de composição de base parlamentar depois que estiver cristalizada a possibilidade de vitória nas eleições. “É temerário cuidar disso agora’, disse o aliado.Para os “marineiros”, a candidata do PSB “está crescendo no enfrentamento com os adversários” na medida em que reconhece a virtudes dos adversários, mas que seu objetivo é mesmo “trabalhar com o imaginário das pessoas”. (G1)

 

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