Por Carlos Chagas
Durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, por ele presidida, o dr. Ulysses sempre prestava atenção no que chamava de “os grotões”. Queria saber como votaria aquela maioria de deputados geralmente calados, ignorados pela imprensa e sempre sentados do meio para o fim do plenário, atuando quase em conjunto. Eram eles que davam a tônica das votações.
Estamos a poucos dias do reaparecimento dos grotões, não para votar uma Constituição ou muito menos formado apenas por deputados. Os grotões maiores, do tamanho do Brasil, vão manifestar-se domingo. Trata-se do eleitorado que nunca foi objeto de pesquisas, jamais saiu em passeata pelas ruas, não pertence a partido político algum, dá pouca ou nenhuma atenção ao que a imprensa divulga e preocupa-se exclusivamente com suas ocupações e seu trabalho. Seus integrantes estão em maioria no interior e nos subúrbios das grandes cidades. São eles que vão decidir a eleição, somando mais da metade dos 143 milhões de eleitores.
Os grotões não analisam nem discutem a política econômica, mesmo reclamando dos preços quando vão à feira e ao supermercado. Infensos à propaganda, para deputado, senador e governador votarão por simpatia, recomendação de vizinhos e parentes ou ligeiro conhecimento dos candidatos, mas, para presidente da República, exprimirão majoritariamente o sentimento nacional. Digitarão as maquininhas, sem maior intimidade com elas, optando por quem menos atrapalhará sua vida. Sem maiores esperanças de que o eleito cumpra as promessas feitas, estarão com o pensamento voltado para que não sobrevenham mais dificuldades do que as enfrentadas na sua rotina. Faz muito que viraram as costas aos “salvadores da pátria”. Se assistem os programas eleitorais, será com desinteresse e por falta de opção.
Mesmo sem se comunicar, os eleitores dos grotões exprimem um generalizado estado de espírito oscilando entre o ceticismo, a desconfiança e o egoísmo. Só na noite de domingo saberemos por quem mais se inclinaram, valendo o mesmo raciocínio para o segundo turno.
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