Por Carlos Chagas

Há quem suponha a presidente Dilma não tendo sido reeleita caso o juiz Sérgio Moro houvesse determinado antes do segundo turno a prisão da nata dos empreiteiros envolvidos no escândalo da Petrobras. É possível, ainda que a relação entre os bandidos não pareça tão linear assim. Afinal, ainda falta a lista dos políticos implicados na roubalheira, ignorando-se a hipótese de terem sido reeleitos por conta da divulgação de seus nomes. Certamente seriam, até pela utilização em suas campanhas de parte dos recursos surrupiados da estatal.

De qualquer forma, fica no ar a indagação: fosse Aécio Neves o presidente da República, faltando dois meses para a posse, teria tido condições de intervir antecipadamente na Petrobras? Como empresa sujeita às regras do Código Comercial, para que o suposto novo chefe do governo mudasse sua direção seriam necessários trâmites variados, desde a reunião da Assembleia Geral, a consulta aos acionistas e a prestação de contas dos demitidos. Possivelmente a realização de uma auditoria monumental, funcionando como agentes os futuros ministros. Nada simples como se imagina pudesse ser passado o rodo na sujeira, mas, sem dúvidas, uma intervenção branca.

Uma coisa seria certa: Aécio escolheria desde logo, ainda que aguardando a formalização posterior, um nome para dirigir a Petrobras. Alguém de peso e vulto, dotado de condições e competência para recuperar a empresa combalida, com prioridade para varrer o lixo acumulado ao longo dos últimos anos. Se quiserem um modelo tirado do passado remoto, um novo Juracy Magalhães, por sinal o primeiro presidente da Petrobras escolhido por Getúlio Vargas, apesar de oposicionista ferrenho.

Não adianta ficar especulando sobre o que seria se não fosse, mas da especulação emerge um vazio monumental: por que Dilma, reeleita, não tomou logo as providências que seu adversário tomaria? Por que, até agora, sob o pretexto de definir a equipe econômica do segundo mandato, mantém na presidência Graça Foster e seus diretores, como se nada tivesse acontecido? Nomear pode ser mais complicado, mas demitir só depende da caneta. O preço dessa vacilação é a crescente falta de credibilidade nas iniciativas do governo do PT. O tempo perdido não se recupera. Muito menos com a inação.

 

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