Por Pedro do Coutto

Na entrevista à imprensa, publicada nos jornais de quinta-feira, destacada principalmente na reportagem de Bruno Rosa e Ramona Ordonez, em O Globo, a presidente Graça Foster confirmou a avalanche de corrupção na Petrobrás e disse que ela própria e a atual diretoria precisam ser investigadas. Em certo momento, substituiu a Operação Lava-Jato pela palavra corrupção, tornando assim irreversível o processo em curso pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e Também pela Justiça Federal do Paraná.

As declarações foram enfáticas e inclusive refletiram as razões pela não publicação do balanço relativo ao terceiro trimestre, uma vez que se tornou difícil a avaliação dos prejuízos causados, no campo dos ativos, e como executá-los nas demonstrações financeiras. Isso mostra bem a extraordinária dimensão dos acontecimentos que, de tanto se repetir, parece terem se transformado numa dramática rotina, levando à exacerbação de um processo de descontrole.

Basta dizer que um diretor acusado se dispôs a devolver 26 milhões de dólares aos cofres da empresa. Um ex-gerente, titular de função menos decisiva para promover negociações, prontificou-se a ressarcir a Petrobrás no fantástico montante de 97 milhões de dólares.

As denúncias estão sendo formalizadas em série pela Procuradoria Geral da República e aceitas pelo juiz Sérgio Moro. A lista cresce a cada dia, em velocidade impressionante. Já são 39 réus assim qualificados.

TUDO CONFIRMADO

Finalmente Graça Foster falou à imprensa e suas declarações projetaram ainda mais os escândalos, pois se eles não existissem, claro, a presidente da estatal não teria se pronunciado. Teria a entrevista sido a manchete principal dos órgãos de imprensa não fosse o reatamento de relações entre Estados Unidos e Cuba, no qual não faltou a atuação do Papa Francisco. A importância internacional do episódio foi muito grande. Como não poderia deixar de ser. Afinal de contas, quando da retirada dos mísseis da costa cubana, exigência do presidente John Kennedy ao primeiro ministro da então União Soviética, Nikita Kruschev, o mundo esteve à beira de um conflito atômico. Aconteceu em 1962 e deu margem à guerra fria que se prolongou até a derrubada do muro de Berlim, que marcava tanto a divisão de uma cidade quanto a de um país entre ocidental e oriental.

Mas tudo isso, hoje, pertence ao passado. A Petrobrás é um caso premente com reflexos no futuro de curto prazo. Vamos esperar os reflexos na Bolsa de Valores e no cenário político administrativo das declarações de Graça Foster, que, sem dúvida, visaram ao refortalecimento da empresa que vive um processo sensível de desgaste, tanto na face interna quanto no espaço externo ocupado por ela, através de suas ações que desceram fortemente nos últimos dias.

AINDA LEVARÁ TEMPO

Não será tarefa fácil recuperar o tempo e o valor financeiro perdidos, como afirmou a própria Graça Foster à repórter Samantha Lima, Folha de São Paulo, também edição de quinta-feira, ao assinalar que a Petrobrás, hoje, não tem condição ainda de estimar os desvios ocorridos. O resultado final das fraudes demandará tempo. Logo, elas estão confirmadas pela presidente da empresa. Mais uma peça importante, portanto, a ser acrescentada às ações que se avolumam no Ministério Público e na Justiça Federal do Paraná. Onde as investigações tiveram início e prosseguem num ritmo impressionante.

Os acusados de corrupção, agora transformados em réus à espera de julgamento, e sequer imaginavam que o destino lhes reservasse tal desfecho. De fato, difícil de prever, sobretudo em face da tradição brasileira. Ocorreu, entretanto, um ponto de ruptura.

 

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