Por Pedro do Coutto
Em reportagem publicada na edição da Folha de São Paulo do dia 15, Pedro Siares, com base em dados do IBGE e comentários de economistas da Confederação Nacional do Comércio, do Bradesco e do Itaú, concluiu que 2014 não foi um bom ano para o comércio varejista e que a tendência aponta para uma ´perspectiva pior para 2015.
Para Rodrigo Myamoto, do Itaú, a de aceleração da massa salarial deve ser limitante do crescimento de vendas, assim como para o consumo das famílias. Os juros elevados constituíram um fator negativo no exercício passado, concordam os técnicos. Ora se pressionaram negativamente o consumo no ano passado, que dirá agora, em 2015, quando entram inevitavelmente em vigor medidas propostas pela equipe econômica chefiada pelo ministro Joaquim Levy?
Tais medidas em princípio aprovadas pela presidente Dilma Rousseff preveem elevação de impostos e realinhamento de tarifas públicas. Se não puderem ser acompanhadas por revisões salariais, a remuneração do trabalho, segundo Myamoto, deve se tornar uma barreira ao crescimento das vendas. Perfeito o raciocínio do economista do Itaú.
INFLAÇÃO E DESCONFIANÇA
Para o IBGE, os resultados relativos a 2014 são consequência da alta da inflação e da queda da confiança dos consumidores em matéria de renda e nível de emprego. O avanço das vendas, em 2014, foram menores do que a evolução registrada em 2013. Recuaram de 4,6 para 2,4%, em volume físico. Mas houve retração no montante financeiro comercializado. Os resultados de novembro e dezembro apontaram como reação normal de final de ano, como sempre ocorre.
Exceção dos supermercados e lojas de alimentação, em relação as quais estudo de técnicos do Bradesco aponta uma redução de 0,8%. Importante este aspecto porque contrasta inclusive com o aumento da população em torno de 1% no mesmo período.
O segmento que reúne os supermercados e demais setores de alimentação formam o grupo de maior percentual no comércio varejista. Inclusive Fábio Bentes, da equipe econômica da Confederação Nacional do Comércio, acentua que os bons resultados registrados em novembro e dezembro não configuram tendência de recuperação das vendas.
DESAFIO DE LEVY
Os destaques positivos acontecidos no ano passado, na visão do Bradesco, restringiram-se aos mercados de móveis, eletrodomésticos, equipamentos de informática a vestuário. Bradesco e Itaú, no final da ópera, concordam na expectativa de esperar um desempenho melhor do Produto Interno Bruto no decorrer do 2015.
Entretanto, o maior desafio colocado à mesa do ministro Joaquim Levy é conseguir compatibilizar o almejado equilíbrio nas contas públicas, que somente poderá ser alcançado através de novos tributos e correções tarifárias, com pelo menos a manutenção dos níveis atuais dos salários em todas as escalas sociais. Caso contrário, a retração do consumo se repetirá, sobretudo porque não existirá outro caminho para os assalariados. Se tiverem seus vencimentos mais uma vez comprimidos, terão que buscar o caminho de diminuir suas despesas como puderem.
O que logicamente seguirá o mesmo princípio anunciado pela Fazenda para reduzir as contas públicas e ampliar a receita. No caso dos trabalhadores e servidores públicos, entretanto, como não podem ampliar suas receitas, só restará a alternativa de retrair ainda mais as despesas. O impasse essencial de qualquer programa de revitalização econômica situa-se nesse plano de ação. A balança tem que oscilar para os dois lados.
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