Por Carlos Newton

Ela não é uma figura política convencional, embora desde adolescente tenha demonstrado interesse pela política e até tenha se tornado militante da luta armada. Depois da anistia, filiou-se ao PDT de Leonel Brizola, que chegou ao poder no Rio Grande do Sul e lhe abriu oportunidade de ocupar importantes cargos no governo estadual. Depois, quando o PT suplantou o PDT gaúcho, logo trocou de partido e seguiu fazendo sua surpreendente carreira de alpinista política, que a levaria ao Palácio do Planalto.

No início de seu primeiro mandato, Dilma Vana Rousseff mais parecia a rainha da Inglaterra, que reina, mas não governa. Quem continuava mandando era o antecessor Lula. Mas agora ela se libertou dele, não somente reina, mas também passou hipoteticamente a governar em toda a plenitude. Mas a realidade não é bem assim.

CARAS E BOCAS

Dilma Vana Rousseff jamais foi política na expressão da palavra, mas adora o poder e no exercício do mandato demonstra viver sensações de verdadeiro êxtase. Nunca se viu nada igual na História do Brasil. É uma governante diferente, com muita dificuldade de coordenar raciocínios e que se comporta como se fosse uma personagem de novelas, fazendo caras e bocas que a transformaram numa atração para fotógrafos e cinegrafistas. Nesse particular, sua performance é espetacular. Ninguém transmite expressões de enfado, desdém, ironia e fúria como ela.

Mas a atriz de repente saiu do palco, justamente quando o país mergulhou na pior crise das últimas décadas. E a ainda presidente Dilma Rousseff completa, neste domingo, 34 dias sem dar entrevistas, o mais longo período em que fica sem falar com a imprensa desde janeiro de 2012, quando passou 38 dias sem dar qualquer declaração a jornalistas.

CINEMA MUDO

A última vez que a presidente conversou com a imprensa foi em 22 de dezembro de 2014, quando ofereceu um café da manhã de final de ano a jornalistas no Palácio do Planalto. Os assuntos mais falados foram o Ministério, que mal começara a ser escolhido, e o escândalo de corrupção na Petrobras.

De lá para cá, virou figurante de cinema mudo. Quem anuncia as medidas é o sorridente ministro da Fazenda, que já disse a que veio. Só sabe aumentar impostos e podar direitos sociais, pois não há cortes de custeio, quando se esperava que fossem reduzidos os 39 ministérios, assim como os cargos comissionados, os gastos de mordomia, as despesas supérfluas, os cartões corporativos…

Pelo contrário, trata-se um governo gastador que não aceita economizar um só centil, como se dizia antigamente, mas faz questão de humilhar os diplomatas no exterior, cortando-lhes impiedosamente as verbas e destruindo a imagem do país no plano internacional.

FUGINDO DA IMPRENSA

Dilma não falou à imprensa nem mesmo quando o ministro do Planejamento, Nélson Barbosa, disse que ia mexer no reajuste do salário mínimo. Ela apenas fez questão de se dizer “indignada” e mandou que ele se desmentisse. Barbosa aceitou a desnecessária e grotesca reprimenda pública e não pediu demissão, porque pretende engordar o currículo.

Na quinta-feira, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi obrigado por Dilma a se desdizer em Davos, afirmando que errara ao prever que haverá “recessão” e o certo seria dizer “contração”. Bem, pelo menos desta vez Dilma foi mais comedida e não vazou que estava indignada. E Levy ficou na dele, porque está só engordado o currículo e por isso aceitou continuar aturando a dona da festa, digamos assim…

Esta semana, a ainda presidente viaja para participar da 3ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), na Costa Rica. Será que vai falar alguma coisa, ou se limitará a fazer suas caras e bocas?

 

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