Por Isabella Lacerda
O Tempo

A crise econômica anunciada no país em 2015 e o consequente custo de vida mais alto para a população, com reajustes no preço dos alimentos, combustível e impostos, não intimidou os Poderes Legislativo e Judiciário e até o Ministério Público, que aumentarem o leque de regalias de seus integrantes.

Antes mesmo da aprovação do novo pacote de bondades para os deputados federais, o que inclui até passagens grátis para os cônjuges, os deputados estaduais, juízes, desembargadores e promotores de Minas também foram beneficiados com novos auxílios e benesses. Só as ajudas de custo aprovadas nos últimos seis meses vão gerar um impacto anual superior a R$ 300 milhões nos orçamentos – R$ 188,3 milhões só da Câmara dos Deputados.

Depois de criticarem o ajuste fiscal proposto pela presidente Dilma Rousseff e a alegação do governo de não poder reajustar o Imposto de Renda em mais de 4,5%, os representantes do poder público não demonstram preocupação nem intenção de cortar algumas das dezenas de regalias. Entre elas está a verba de gabinete para manter mais de 20 funcionários, auxílio-moradia mesmo para os que têm residência própria, passagens aéreas, alimentação, transporte, entre outros.

DESPREZO À OPINIÃO PÚBLICA

Na análise de cientistas políticos, sociólogos e representantes de movimentos de combate à corrupção, a despreocupação da classe política com a opinião pública faz com que o quadro de abusos se mantenha ou até piore.

Para o sociólogo da USP Antônio Carlos Mazzeo, a cada nova eleição, o Congresso se torna mais conservador, gerando consequências devastadores para o país. “São parlamentares fisiologistas que só se preocupam com eles próprios”, afirma o especialista. Segundo ele, no caso de juízes e promotores, o fato de não serem eleitos pela população torna-os ainda menos interessados em saber como pensa a população.

Ainda segundo o sociólogo, apesar de ser preciso dar condições para que o deputado desempenhe sua atividade, é imoral ultrapassar o mínimo necessário. “Se ele quer que a esposa o acompanhe, ele que pague para ela. Ele ganha para isso. Em pleno arrocho fiscal e situação de dificuldade para o trabalhador, isso se torna inaceitável”, disse.

PROCESSO HISTÓRICO

O historiador e professor da Ufop Antônio Marcelo diz que a opinião publica não existe no Brasil. “A preocupação aparece perto da eleição. Em outros momentos, o que há é descrença”, analisa. Ele diz que esse é um processo histórico da sociedade brasileira, que não se libertou da escravidão. “Esperamos sempre que o outro tome a iniciativa. Somos passivos”, lamenta.

Presidente da ONG Pró-cidade, que tem como bandeira a reforma política, Marcílio Moreira lamenta o que classifica como um “novo ato de desrespeito” dos deputados. “Há uma passividade. Estou há sete ano no movimento pela reforma política, mas o apoio é pequeno. Enquanto o sistema continuar igual, com as mesmas figuras e forma de elegê-las, não haverá melhora”, diz.

 

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