Por Pedro do Coutto
É isso que o título sintetiza: a presidente Dilma Rousseff, embora negue, no fundo tem consciência de que a reforma ministerial é fator imprescindível para os rumos de seu governo, além de urgente. A reportagem de Simone Iglesias, Cristiane Jungblut, Júnia Gama e Carolina Alencastro, O Globo de sexta-feira 20, focalizava nitidamente o tema e sua profundidade. Na mesma edição, cobertura de Luiza Damé à visita de Dilma a Goiania, reforça a ideia. Na solenidade ao lado do governador Marconi Perilo, PSDB, a presidente da República pediu tolerância e diálogo. Tolerância de quem? Diálogo com quem? São perguntas inevitáveis.
Dirigiu-se portanto à sociedade; à opinião pública. Tolerância traduz insatisfação com algo concreto. Logo, quem pede tolerância, tacitamente admite que não está indo bem e assim necessita compreensão para, presume-se, superar obstáculos. Mesma coisa quanto ao diálogo. Pois se este está faltando, a culpa é de quem exerce o poder, não da população, que obviamente não tem acesso ao Planalto, centro das decisões do governo. Se está faltando diálogo, está havendo falta de comunicação pública. A responsabilidade é de quem? Só pode ser do próprio Executivo.
MINISTRO POR ENQUANTO
E, nesse ponto, nos deparamos com a publicação de documento editado pela Secom, dirigida pelo ministro Thomas Trauman, criticando fortemente a atuação governamental. Trauman ainda é o ministro chefe da Secretaria de Comunicação. Mas, logo, logicamente, não pode permanecer no cargo. Mais um aspecto da desarticulação em torno da qual se movimenta o Palácio do Planalto. A desarticulação não é o único fator do desgaste. Pois temos o depoimento silencioso de Renato Duque à CPI da Petrobrás agravando a situação política.
Renato Duque foi o diretor da estatal que, embora preso em Curitiba, através de terceiros, tentou transferir em saldo de 31 milhões de euros de um banco na Suíça para outro, localizado em Mônaco. Além disso em sua residência a PF, cumprindo determinação do Juiz Sérgio Moro, apreendeu 131 obras de arte de autores renomados. São fatos que se acumulam e desacreditam o governo. A presidente, portanto, deve realizar com urgência a reforma de sua equipe, a reforma ministerial. Inclusive, uma das reivindicações populares está na diminuição do número de ministérios. Trinta e nove é demais.
MINISTROS DE 2ª CLASSE
A presidente, sobretudo, não possui tempo para debater as questões importantes com todo esse time. É impossível. Resultado: há ministros que nunca podem ser recebidos. Sua comunicação tem de se realizar através da Casa Civil, cujo titular Aloizio Mercadante, tem sua presença questionada e abalada pelas manifestações públicas do ex-presidente Lula.
Como já ocorreu em crises anteriores, os integrantes do ministério deveriam agora ser os primeiros a tomarem a iniciativa de libertar a presidente dos constrangimentos a ocorrer se a iniciativa de substituí-los partir deles. A se dirigirem ao Palácio do governo colocando seus cargos à disposição da presidente da República, como ocorre inclusive nos países mais qualificados.
Libertemos a presidente, a meu ver, deve ser a palavra de ordem. Com base nela, Dilma Rousseff encontraria melhores condições para reformular a equipe, mantendo alguns e exonerando outros, conforme sua visão sobre um campo político livre de injunções partidárias. Só assim poderá tentar recuperar o diálogo com o eleitorado que a levou a seu segundo mandato. Prisão para os ladrões da Petrobrás, liberdade para o pensamento da população.
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