POEMA PATÉTICO
Como a voz de um pequeno braço de mar perdido dentro de uma caverna,
Como um abafado soluço que irrompesse de súbito de um quarto fechado,
Ouço-te, agora, a voz, ó meu desejo, e instintivamente recuo até as
origens de minha angústia,
Policiada e vencida, oh! afinal vencida por tantos e tantos séculos
de resignação e humildade.
Em que hora remota, em que época já tão distanciada, foi que os ares
vibraram pela última vez, diante de teu último grito de rebeldia?
Quantas vezes, ó meu desejo, tu me obrigaste a acender grandes fogueiras
dentro da noite.
E esperar, cantando, pela madrugada?
Mas, e hoje? Hoje a tua voz ressoa dentro de mim, como um cântico de
órgão.
Como a voz de um pequeno braço de mar perdido dentro de uma
caverna,
Como um abafado soluço que irrompesse, de súbito, de um quarto fechado.
O jornalista, professor e poeta mineiro Emílio Guimarães Moura (1902-1971), no poema “Poema Patético”, revela como o amor entremeia emoções diferentes entre o desejo e a angústia.
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