Poe Eduardo Aquino / O Tempo

 

Somos por natureza e por definição incompletos, imperfeitos e falíveis. E, sendo assim, é incrível entender a dimensão maravilhosa que essa condição humana nos propõe. A possibilidade do erro é, de longe, o que a experiência existencial nos presenteia de mais libertador.

Por dedução lógica, o erro é uma das duas consequências inerentes à experimentação, ao empirismo de quem faz da tentativa a busca pelo aprendizado. Por óbvio, a outra possibilidade é o acerto. Somos, pois, o resultado inacabado do somatório de tudo aquilo que tentamos fazer a cada instante. Casar? Buscar uma profissão? Ter filhos? Amar? Ser rico? Ser importante? Brigar? Viajar? Chutar o pau da barraca? Emburrar? Diga-me o que você quer experimentar, e eu te perguntarei: tentou? Deu certo ou errado? Valeu?

Pecado é não tentar viver, é fugir das experiências que nos cercam. Por que somos tão domesticados e treinados (educados?) para ter que dar certo, para não errar, não decepcionar os outros – sejam pais, família, amigos ou desconhecidos – e, pior, morrer de medo do fracasso, do erro e das tentativas frustradas?

BAIXOESTIMA

Jogos de culpa, baixa autoestima, preocupação com a opinião e a crítica alheia e outra série de preconceitos sociais, religiosos, culturais e econômicos vão bobamente paralisando o aprendizado fundamental que só se adquire experimentando os desafios que a vida traz. Benditos sejam os que erram! Corajosos são os que tentam, sábios são os que assumem o erro e aprendem com humildade a experiência tentada. As melhores lições vêm exatamente dos nossos maiores fracassos, frustrações e erros, pois estes não serão repetidos. Ter a grandeza de continuar tentando, colhendo novos erros e, sem dúvida, acertando muita coisa. O que acertamos passa a ser um acervo de vivências que nos gratifica e recompensa; um caminho bem trilhado.

Quanto aos erros e insucessos, o ensinamento de que aquele caminho é um labirinto sem saída é tão ou mais importante que a própria experiência do acerto ou do sucesso. Afinal, o que já sei, o que sou bom em fazer, o que sempre acerto quando tento transformam-se nas minhas virtudes, habilidades, dons. Mas só cresço naquilo que, ao errar, me proponho a corrigir, aprender e modificar minhas vivências. Evoluir é mudar e transformar. Imaturos e infelizes são os que nunca admitem seus erros e falhas, os que covardemente vivem se justificando, dando desculpas, mentindo e até constrangendo os que tentam apontar suas falhas. Se tornam ditadores, autoritários, pobres de espírito.

PAZ E LIBERDADE

Benditos são aqueles que praticam o exercício de rever suas ações e conceitos com serenidade. Buscam cada vez mais aprender a ouvir a crítica, a opinião divergente. Refletindo, assumem seus erros e falhas e dizem a plenos pulmões: “Errei!” Quanta paz, quanta liberdade. E, se não for pedir demais, que busquemos todas as pessoas (tenham certeza de que são muitas) que passaram por nossas vidas e foram de alguma forma prejudicadas por nossas experiências mal-sucedidas, e do fundo da alma, pedir: “Me perdoe!”

Há de ser humilde, coerente e maduro para se propor um exercício estranhamente pesado, que é rever ações e comportamentos errados que vivemos cometendo. Assim como a arte de perdoar e ser perdoado, faxinando tralhas históricas como mágoas, ódios, ressentimentos e orgulhos bestas de quem vive amargo, e repassando de forma masoquista e pueril as más experiências. Escravos do passado, infelizes personagens que buscam ser reconhecidos como “coitadinhos”. Adorando os papéis de vítimas, de reclamadores compulsivos, arrotando frustrações, detonando seus familiares, ex-amigos, vizinhos e colegas de trabalho. Como dizia o velho desenho animado: “Ó vida, ó dor, ó sofrimento”.

Evolua, pratique o “errei”, o “não sei”, o “não quero” e o “não posso” com a mesma espontaneidade com que dizemos “acertei”, “quero” e “sei”. Pratique o perdão, olhe pra frente, siga seu caminho, tente sempre, errando e acertando, tendo vitórias e derrotas. Ora falando, ora ouvindo, ora aprendendo, ora ensinando. Somos eternos aprendizes na matéria chamada vida!

 

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