Paulo de Tarso Lyra e Julia Chaib / Correio Braziliense
Amparada na frágil relação entre PT, PMDB e governo, a permanência do vice-presidente da República, Michel Temer, na articulação política do governo está por um fio, e começa a dar sinais de que o rompimento é iminente. Os peemedebistas elevaram o tom e ecoaram as palavras do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de que Temer deve deixar o cargo de coordenador da relação política do Planalto com o Congresso. Apesar do afago que partiu da Casa Civil, o PT submergiu. Ainda assim, considera um desastre se o vice-presidente, de fato, abandonar a função estratégica de tentar conter os insatisfeitos da base.
“Será um carimbo de que o nosso governo naufragou de vez”, resumiu um cacique petista, sob condição de anonimato. Independentemente da movimentação de Temer, o partido tem dito que deixará o governo após as eleições municipais do próximo ano, com a possibilidade de lançar candidatura presidencial própria em 2018.
A nota oficial emitida pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, na quinta-feira à tarde, quando elogiou o trabalho de Temer, foi insuficiente para diminuir a fogueira de vaidades que arde na Esplanada. “O PMDB não vai permitir que o vice-presidente fique sujeito aos constrangimentos impostos pelo PT. Se alguma coisa funcionou nos últimos meses nessa relação entre o Planalto e o Congresso, isso se deve ao Temer”, afirmou o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ).
BASE ESTÁ RACHADA
Para Picciani, a base aliada no Congresso está novamente fragmentada. O peemedebista fluminense concorda que existe um processo de sabotagem ao PMDB imposto pelos petistas próximos à presidente Dilma Rousseff. “O governo terá muitas dificuldades nas próximas votações no Congresso”, previu o líder da legenda na Câmara. Um dos entraves é a análise dos vetos presidenciais, marcada para 14 de julho, como a rejeição à nova fórmula do fator previdenciário. “Com esse clima ruim, fica difícil prever os ânimos dos partidos da base aliada”, completou Picciani.
Um dos caciques do PT, ouvido pela reportagem, está tenso com a possibilidade de os peemedebistas cumprirem a ameaça de sair da articulação política do governo. “Se não for agora, será mais para a frente. Eles vão manter essa crise permanente como uma estratégia: o PMDB está dando um prazo para nós”, afirmou o senador. Ele reconhece que Temer tem sido essencial para os êxitos do governo, sobretudo nas votações do ajuste fiscal. “Ele é um homem do diálogo, do bom senso, algo que falta em muitas lideranças petistas. E também nas peemedebistas”, provocou.
Mas, para esse petista, a tática do PMDB é bem mais elaborada. O temor do impeachment que ronda o Palácio do Planalto estaria atiçando os movimentos de descolamento do governo, defendido por Eduardo Cunha e seus aliados. “Eles desembarcam e ficam livres para assumir o governo mais à frente, sem constrangimentos”, declarou o senador.
MERCADANTE É O ALVO
Neste momento, no entanto, as metralhadoras do PMDB se voltam, sobretudo, contra o chefe da Casa Civil. “Ele (Mercadante) tem embarreirado todos os acordos que o Michel Temer e o Eliseu Padilha (ministro da Secretaria de Aviação Civil) têm fechado com os demais partidos da base”, reclama o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
Padilha demonstrou um pouco mais de otimismo e assegurou que, pelo menos do ponto de vista dos cargos, a situação está praticamente equalizada. “Dos grandes cargos do segundo escalão, falta pouca coisa para ser definida. Menos de 100. Nos estados, temos 12 ou 13 fechados, inclusive em Minas Gerais. Pendentes, de fato, estão São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul”, disse o ministro ao Correio.
Cauteloso, Padilha não quis, como seus correligionários, comprar uma briga entre os dois partidos. “O PT já fez concessões em muitos dos estados que estão fechados. O PT sabe que nós precisamos de painel (referência aos votos necessários expostos no painel eletrônico para aprovar matérias de interesse do governo, especialmente o ajuste fiscal). Se ele não tivesse feito concessões, não teríamos acordo até hoje”, ponderou.
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