Por Carlos Newton

Se tivesse o mínimo de preparo político, a presidente Dilma Rousseff jamais deveria tocar no assunto impeachment, seja em entrevistas ou mesmo em reuniões com grande número de participantes, quando sempre há vazamento do que foi tratado. Sua estratégia tinha de ser simplesmente esquecer o assunto e seguir em frente com o governo, pois não lhe faltam problemas aguardando solução.

Mas acontece que a presidente Dilma se tornou uma espécie de exemplo vivo da famosa Lei de Murphy – tudo o que faz dá errado, é impressionante. Ao invés de botar uma pedra sobre o impeachment, ela faz justamente o contrário. Reúne os principais 12 ministros, aqueles que têm alguma influência no Congresso, e exige que eles mobilizem suas bancadas para evitar que o impeachment avance sob comando de Eduardo Cunha, presidente da Câmara.

Detalhe: ela não pediu, deu a eles uma ordem, enfatizando que os ministros devem seguir o mesmo esquema para inviabilizar também a chamada pauta-bomba, como o importante projeto de aumento dos rendimentos do FGTS, que reduziria um pouco a exploração dos trabalhadores.

COM OS GOVERNADORES

Nesta quinta-feira, Dilma fará o mesmo em reunião com os governadores. Como não pode ordenar, vai pedir que mobilizem suas bancadas a favor da permanência dela. Acontece que os governadores são políticos profissionais, que temem se contaminar pela impopularidade da presidente. Mas é claro que, educadamente, eles farão como os ministros, prometendo fechar com o governo para o que der e vier, e Dilma pode até fingir que acredita, vejam que insanidade.

Bem, enquanto isso, o arqui-inimigo Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já anuncia que o TCU (Tribunal de Contas da União) deve rejeitar, em parecer, as contas de 2014 da presidência da República.

Na sequência, arrisca uma previsão. “Se a Comissão Mista de Orçamento acolher o parecer do tribunal, faz uma proposta de decreto legislativo pela rejeição”, disse, acrescentando ser importante explicar que a palavra final é do Congresso, para evitar “frustrações”.

Tradução simultânea: rejeição das contas equivale à ocorrência de crime de responsabilidade, justificativa para impeachment e cassação da presidente da República, abrindo caminho para que seja substituída pelo vice-presidente, de acordo com a Constituição.

PIOR NÃO FICA

Há resistências ao nome do vice Michel Temer. Quem o conhece pessoalmente sabe que é arrogante e fechado. Homem de poucas palavras, raramente esboça um sorriso. Mas é culto, experiente e sabe liderar.

Casou-se com uma mulher 42 anos mais nova que ele, mas não perdeu a dignidade e jamais tentou se comportar com jovem. Pelo contrário, não pinta os cabelos e raramente é visto de roupa esporte. Bermuda, nem pensar.

Já tivemos sorte uma vez, com a chegada ao poder de um grande brasileiro chamado Itamar Franco. Quem sabe não damos sorte novamente agora? Afinal, como diz o sábio deputado Titirica (PR-SP), pior não fica.

 

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