Por Vicente Nunes / Correio Braziliense

As perspectivas para o emprego são tenebrosas. Além do fechamento de vagas, haverá forte queda nos salários. Para se tornar competitivo, o setor produtivo terá de cortar o máximo de custos, e a mão de obra representa hoje um peso enorme no orçamento das companhias. Sem emprego, muitos terão que suspender o pagamento de parcelas de carros e imóveis. O calote só não disparou ainda porque muitos trabalhadores demitidos recorreram ao seguro-desemprego. Mas como esse benefício têm prazo de validade e a recolocação no mercado está difícil, os consumidores serão obrigados a deixar de honrar os compromissos em dia.

Mesmo os bancos públicos, que vinham sustentando o crédito, já pisaram fundo no freio. Somente operações com muitas garantia estão sendo aprovadas. Linhas de empréstimos que os consumidores tinham disponíveis foram fechadas ou reduzidas drasticamente. “O momento é de se recolher. O que estamos vendo pela frente é um baque profundo da atividade, com o desemprego podendo chegar a dois dígitos ainda no fim deste ano”, diz um executivo de uma das instituições controladas pelo Tesouro Nacional.

PERÍODO PROLONGADO

Para tentar reverter esse quadro, uma das saídas será o BC começar a cortar juros o mais cedo possível. A instituição, já sabendo das pressões que virão pela frente, dada a profundidade da recessão, avisou que a taxa de 14,25% ao ano será mantida nesse patamar por um período prolongado. Mas ninguém descarta um cavalo de pau na condução da política monetária, como o que se viu no fim de agosto de 2011, quando o Copom surpreendeu quase 100% dos analistas e reduziu subitamente a Selic em 0,50 ponto, para 12%.
O problema foi que, a partir daquele momento, a credibilidade do BC começou a ruir. A autoridade monetária deu início ao mais longo ciclo de queda de juros que o Brasil já registrou – foram 5,25 pontos, até 7,25% ao ano -, mesmo com a inflação em alta, mantendo-se sistematicamente próxima ou acima do teto da meta, de 6,5%. Essa queda na taxa básica foi vista como um troféu político que o BC quis entregar para a presidente Dilma, que estava imbuída de levar os juros ao menor patamar da história.

Naquele momento, a economia se mostrava ainda forte. Vinha de uma expansão de 7,6%. Agora, o cenário é completamente outro. A atividade está encolhendo numa velocidade muito rápida, mas com inflação alta e, pior, com o risco de o Brasil ser rebaixado para o grupo de países especulativos. O BC sabe que não será fácil a sua vida daqui por diante. Mas também tem a noção de que está pagando pelos erros que cometeu. Tomara que, daqui por diante, não se meta em aventuras. Um deslize a mais custará anos e anos de sofrimento.

CLIMA DE APREENSÃO

Governo e analistas ficaram atônitos com a decisão do diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Tony Volpon, de não participar da reunião de ontem do Copom. O Palácio do Planalto está preocupado com a extensão do caso. A ordem é acompanhar com lupa o desenrolar do mercado financeiro hoje.

Alexandre Tombini, presidente do BC, demonstrou total apoio a Volpon. Mas há um temor dentro do banco sobre as repercussões políticas do fato inédito de um diretor ficar de fora do Copom. O bicho-papão se chama José Serra, que está disposto a fazer barulho. O senador pelo PSDB já avisou que convocará Volpon para explicar, no Senado, uma possível antecipação de voto.

 

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