1.     A razão da teimosia de Dilma está no fato de não se considerar ligada a nenhum partido político. O PT não governo. Há uma incompatibilidade ampla entre o partido e a presidente. Foram indicados alguns ministros petistas no modelo de partilha da base aliada. Mas Dilma não se considera PT. E vice-versa.

2.     A manutenção de Aloizio Mercadante na Casa Civil e José Eduardo Cardozo, na Justiça, visou unicamente conter os ímpetos do PT. Não se colocou ninguém melhor porque melhor não existe no círculo de conhecimentos e lealdades de Dilma. Seu universo pessoal é extremamente restrito, já que sua carreira política nacional começou apenas quando indicada Ministra de Lula. Suas pessoas de confiança, como Miguel Rossetto, Arno Augustin, Pepe Vargas, são políticos com experiência fundamentalmente local.

3.     Por tudo isso, e por uma desconfiança profunda em relação aos aliados recentes (aprofundada depois do episódio Erenice Guimarães) desde o início do primeiro governo Dilma se vê apenas como pessoa física. Sua reação às denúncias é sempre a mesma: cada qual que se vire com o que fez. Não consegue entender os desdobramentos de campanhas de denúncia no jogo político como um todo.

4.     Também não se consegue enxergar na institucionalidade do cargo, como representante de um conjunto de forças e de pensamentos. Sua formação getulista sempre a levou a procurar uma composição supra-ideológica, em parte seguindo a estratégia lulista de compor com um arco amplo de forças. Mas sua falta de prática política e estilo centralizador a deixaram pendurada na brocha. Paga a conta de ser PT, sem ser. E paga a conta de se render ao mercadismo, sem se render. O que a assola é uma teimosia supra-ideológica.

5.     Essa indefinição ideológica poderá se converter em trunfo, se souber se abrir para os diversos grupos sociais e econômicos e definir um projeto de desenvolvimento socialdemocrata consistente. Não sendo PT, a melhoria do seu governo não significará necessariamente um trunfo para o PT. Não sendo PSDB, não será um avanço da oposição. Não sendo anti-empresários, não será o avanço da venezuelização. Não sendo anti-movimentos sociais, não será vitória do capital internacional. Ou seja, seu isolamento e sua fraqueza paradoxalmente a credenciam para um governo de transição e de conciliação.

6.      Se chamar os industriais para discutir políticas industriais, movimentos sociais para aprofundar políticas sociais, o mercado para discutir as formas de financiamento da infraestrutura, os educadores para avançar no Plano Nacional de Educação e entender-se como síntese de um projeto – e não dona – o cansaço geral com o negativismo da oposição poderá promover um apoio generalizado e inédito ao seu governo.  (Jornal GGN)

 

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