Ao relembrar a frase histórica de Ulysses Guimarães nas comemorações dos 30 anos da morte de Tancredo Neves, quando disse que o amava, mas o temia, o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, deixou claro, ontem, no ato que celebrou os 50 anos de idade de Eduardo Campos, que receava enfrentá-lo num eventual segundo turno da disputa presidencial.
“Eu amava Eduardo, mas eu temia Eduardo”, repetiu o senador tucano. Em sua fala, Aécio lembrou que ele e Eduardo vinham de duas árvores que produziram muitos frutos na vida pública brasileira, referindo-se ao seu avô Tancredo Neves e ao ex-governador Miguel Arraes, avô de Eduardo Campos.
Na largada da disputa presidencial de 2014, Aécio e Neves tiveram vários encontros e selaram uma espécie de pacto de não agressão, ao mesmo tempo em que ficou definido que o inimigo em comum era o PT, no caso a reeleição da presidente Dilma. Em alguns momentos, Eduardo foi mais agressivo no bombardeio, porque menos conhecido do que Aécio, precisava de espaços na mídia.
Aparentemente o pacto foi cumprido, embora aqui e acolá tenham sido vistas declarações de ambos desfocadas do entendimento, algumas até mais incisivas. Aécio, na verdade, não queria a candidatura do ex-governador pernambucano, mas o seu apoio, tendo-lhe oferecido a vice em sua chapa por diversas ocasiões.
No campo da oposição, o grande adversário de Aécio era Eduardo. Jovem, imagem de bom gestor, discurso fluente e grande sedutor, o socialista deu a primeira rasteira em Aécio ao atrair para a sua chapa a pré-candidata Marina Silva. Aécio só acreditou de fato na adesão da ex-senadora quando ocorreu o anuncio formal, em Brasília, numa manhã de sábado.
A partir dali, Aécio tinha razões para temer Eduardo, conforme revelou em seu discurso. Mesmo sendo um dos candidatos mais desconhecidos de todos os que estavam no páreo, o ex-governador já vinha crescendo nas pesquisas, embora lentamente, até quando a TV-Globo abriu o espaço nobre do Jornal Nacional para exibir suas ideias.
Eduardo deu um show de bola, assustou todo mundo, governo e oposição, inclusive Aécio. Saiu da Globo convencido de tinha dado o start para ultrapassar Aécio, tamanha a repercussão estupenda sobre a forma segura e afirmativa como se comportou na bancada do JN, onde deixou a frase antológica “Não vamos desistir do Brasil”.
Não imaginava que ali, para todo o Brasil, estava fazendo a sua despedida da passagem aqui no planeta terra e, consequentemente, da vida pública. Quis Deus e o destino que, no dia seguinte, a tragédia do 13 de agosto arquivasse por tabela a temeridade que Aécio escondia e que somente ontem tornou pública.
Fonte: Blog Magno Martins
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