Por Pedro do Coutto
Enquanto o PSDB retirava seu posicionamento de neutralidade em relação a Eduardo Cunha, a maioria da base aliada ao governo na Câmara, ao contrário, manifestava seu apoio à permanência do parlamentar do PMDB-RJ na direção daquela Casa do Congresso. Troca de posições? Sim, mas só na aparência, na superfície das ondas revoltas, e mesmo assim, a prazo curto.O que está contido no episódio? Apenas o desejo dos governistas (e do Planalto) voltado para conter a perspectiva da aceitação do pedido de impeachment contra Dilma Rousseff. Pois enquanto necessitar dessa sustentação para permanecer, o governo joga para barrar a simples aceitação da proposta de Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior. Não se trata – é preciso deixar bem clara a diferença – nem de iniciar o debate, mas somente acolher o requerimento. O Executivo teme tal hipótese. Por isso alimenta a defesa de Eduardo Cunha. Mas até quando? Essa é a questão.
Até o momento em que ele decidir a matéria. Aguarda a decisão do STF quanto a seu recurso contra a própria faculdade de ter em mãos a capacidade de um despacho monocrático. Superado esse patamar, Eduardo Cunha fica sem qualquer instrumento de barganha. Perde automaticamente o poder de troca. Deixa de interessar o governo. Ele só pode interessar ao governo se tiver em mãos o que oferecer.
UM ATO PESSOAL
Por isso, se o Supremo mantiver a liminar do Ministro Teori Zavascki, a decisão terá de ser solitária, um ato pessoal. A negativa, portanto, esgota o assunto. Cunha somente manterá o tema aquecido se aceitar colocar em tramitação o requerimento de Bicudo Reale. Como se constata, à base da lógica, é que o apoio que recebeu (reportagem de Ranier Bragon, Débora Alves e Gustavo Uribe, Folha de São Paulo de quinta-feira) terá curta duração. Logo cairá no vazo. Esta é que é a verdade. Coisas da política.
MEIRELLES A UM PASSO DA FAZENDA
Coisas de política também incluem o evento que, por “coincidência”, aproximou o ministro Joaquim Levy e o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, durante o Encontro Nacional da Indústria na sede da CNI, em São Paulo, de acordo com a matéria produzida por Bernardo Carom e Rachel Gamarski, O Estado de São Paulo, edição de 12. Coloco a palavra coincidência entre aspas porque o conteúdo dos fatos que aconteceram indica o contrário. Meireles afirmou simplesmente não ter ainda recebido convite concreto da presidente Dilma Roussef para substituir Joaquim Levy no Ministério da Fazenda. Se aceito ou não, frisou respondendo a uma pergunta, só posso dizer que não falo sobre hipóteses.Porém, a Folha de São Paulo, reportagem de Valdo Cruz e Mariana Haubert, vai mais além e sustenta que Henrique Meireles já exigiu condições para aceitar a tarefa. A principal é a de que a política econômica fique sob a responsabilidade do Ministério da Fazenda. E criticou diretamente, sem meias palavras, a recriação da CPMF: não é necessariamente um imposto positivo. Existem diversas formas de tributação que são mais positivas para a economia. “Meirelles criticou igualmente a atual carga tributária brasileira. Antes do evento, Joaquim Levy e Henrique Meirelles almoçaram juntos como os empresários convidados pela Confederação Nacional da Indústria.
Reforçando a perspectiva da substituição no MF, há ainda uma terceira perspectiva, esta refletida pela reportagem de Martha Beck, Catarina Alencastro, Gabriela Valente, Eliane Oliveira, Simone Iglesias e João Sorima Neto, O Globo, a qual reproduz declaração de Joaquim Levy logo ao início do encontro: “concordo com tudo que Meirelles vai dizer, trabalhamos juntos,” A publicação e a interpretação dos três maiores jornais do país, como se vê, são convergentes.
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