Por Bernardo Mello Franco, – Folha de S.Paulo
No momento em que esta coluna é escrita, as autoridades francesas ainda contam mortos e feridos em Paris. O ataque da sexta-feira 13 foi o maior da década na Europa. O terror voltou a assombrar o Ocidente, na cidade que fundou a ideia moderna de democracia.
Os extremistas escolheram lugares cheios de jovens em busca de diversão. Entre os alvos estavam uma casa de shows, um restaurante badalado e um estádio de futebol.A reação da arquibancada mostrou como podemos ficar atônitos diante da tragédia. Ao ouvir as explosões fora do estádio, a multidão vibrou, como se um torcedor tivesse acionado um rojão. Depois que as notícias correram, a massa voltou para casa entoando uma versão triste e comovente da Marselhesa.
Não há argumentos para justificar a barbárie. Os terroristas mataram civis inocentes, que não tinham como se defender, em nome de uma ideia delirante de guerra santa. A participação da França em ações militares no Oriente Médio não pode relativizar nem explicar o massacre.
Também não é hora para um campeonato de tragédias, como se o desastre humano e ambiental em Minas Gerais ou os atentados da véspera no Líbano tirassem a importância do que aconteceu em Paris.
O comunicado do Estado Islâmico mostra que o mundo está diante de uma ameaça grave, embalada por um discurso fanático e intolerante. Os extremistas querem impor a lógica do medo e da submissão, e tratam todos os que se opõem a eles como “infiéis”. As grandes potências terão que mudar de estratégia para combater o grupo, que já provou ter grande capacidade de organização e reação.As consequências do ataque ainda são imprevisíveis, mas já é possível dizer que os primeiros efeitos serão mais medo, mais intolerância e mais xenofobia na Europa. A corda tende a arrebentar nas costas dos refugiados, que já sofrem com a ação dos fanáticos em sua terra natal.
Estado Islâmico
A brutalidade é marca registrada do Estado Islâmico. Um exército de terroristas que controla uma faixa vasta de território no Oriente Médio – e que tem como maior objetivo eliminar quem não pensa como eles.Em junho de 2014, o mundo foi surpreendido com a notícia de que um grupo extremista havia ocupado Mosul, a segunda maior cidade do Iraque. Era o até então pouco conhecido Estado Islâmico.
Estado porque seu líder, Abu Bakr al- Bagdadi, declarou que as áreas que ocupava na Síria e no Iraque formavam agora um califado, um sistema de governo da época de Maomé, mais de 1,3 mil anos atrás.Ao fazer uso de uma interpretação muito particular da religião, o Estado Islâmico prega um islamismo distorcido, ultrarradical e totalitário porque quer impor seu modo de pensar a todos os países do mundo. Se diferencia ao usar as redes sociais como nenhum outro grupo terrorista na história. Além de se comunicar em inglês e outras línguas estrangeiras para fazer propaganda e convocar militantes.
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