Por Armando Castelar / Correio Braziliense
Há um ano atrás, a mediana das projeções de mercado indicava para 2015 alta do PIB de 0,5% e inflação de 6,6%. Aos poucos, porém, as ilusões foram caindo por terra: atualmente, nem os mais otimistas acreditam que o país escape de uma brutal recessão, com queda de 3,5% a 4,0% no PIB, e de uma inflação de dois dígitos.O excesso de otimismo explica essa distância entre previsões e realidade. De um lado, otimismo em relação às previsões: como argumentei à época (http://bit.ly/1gAYbhG), era irrealista acreditar que os erros de política econômica de 2012-14 pudessem ser corrigidos com impactos tão leves sobre a economia. De outro, otimismo sobre o governo ter entendido a natureza da crise e estar disposto a mudar a política econômica na direção e com a intensidade necessárias para fazer frente à piora dos fundamentos ocorrida em 2011-14. Em que pesem as promessas e o esforço de parte da equipe, o que se viu em 2015 foram medidas tímidas, que não impediram uma deterioração adicional dos fundamentos econômicos. O país chegou ao final de 2015 em pior situação do que começou.
Não há qualquer indicação de que o quadro será diferente em 2016. Ano que vem o PIB vai cair 3% ou mais e a inflação, que o mercado hoje prevê fique em 6,9%, corre o risco de se aproximar outra vez dos dois dígitos.
CRISE FISCAL
A causa principal desse fraco desempenho continuará sendo o agravamento da situação fiscal. Não há perspectiva de melhora nas contas públicas, em que pesem os vários aumentos de tributos que o governo tem feito. A expectativa é que o déficit primário aumente, para 1,5% do PIB, e que a dívida pública dê outro salto, para 75% do PIB, com alta de quase 25% do PIB no triênio 2014-16! Trata-se de uma dinâmica explosiva, que corrói a confiança dos agentes econômicos, derrubando o investimento e o consumo das famílias. Esses valores ilustram um elemento fundamental da crise: a falta de propostas com a dimensão que a situação exige. Assim, por exemplo, o setor público necessita gerar um superávit primário da ordem de 3% do PIB para impedir que a razão dívida pública / PIB continue subindo. O resultado primário de 2015, de déficit de 1% do PIB, ficou, portanto, 4% do PIB aquém do necessário. Não é a CPMF, que gera receitas de 0,6% do PIB, que irá dar conta desse desafio, mesmo que ela seja aprovada por um Congresso que aparentemente não concorda com a sua volta – e, diga-se de passagem, tem toda legitimidade democrática para ter sua própria opinião a respeito. Para sair da crise serão necessárias reformas profundas, que cortem o gasto público e o impeçam de crescer como hoje.
DESEMPREGO CRESCENTE
A principal diferença na economia entre 2015 e 2016 se dará no mercado de trabalho. Este ano a queda do emprego e da renda se concentrou nas regiões metropolitanas e nos trabalhadores com carteira. Apesar da recessão, no Brasil como um todo houve reduções apenas marginais do nível de emprego e do rendimento real. Em 2016 a evolução será pior, com forte alta da taxa de desemprego, para quase 13% ao final do ano. Trata-se de uma das mais elevadas taxas de desocupação da história do país.Nesse cenário, e com eleições municipais em outubro, há um risco razoável que a Nova Matriz Econômica (NME), que nunca saiu totalmente de cena, influa mais na política econômica. Refiro-me em especial ao diagnóstico que orienta a NME, de que o baixo crescimento resulta da falta de demanda. Ou seja, que a solução para a crise passa por mais desonerações, mais gastos públicos e mais subsídios creditícios.
MAIS DO MESMO…
Atribuiu-se a Albert Einstein a definição de insanidade como sendo fazer a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes. É insano esperar que mais da NME vá produzir algo diferente do que no passado: se aplicada outra vez, vai derrubar ainda mais a confiança, levando 2016 a ter um desempenho econômico ainda pior que o deste ano. Em entrevista ao Valor (18/12/2015), o ex-ministro Rubens Ricupero lembrou Antonio Gramsci, quando este observa que “a crise consiste precisamente do fato de que o velho está morrendo, enquanto o novo ainda não consegue nascer”. E, completa Gramsci, “nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece”.
A meu ver, isso descreve bem o momento por que passa o Brasil. Não faltarão “sintomas mórbidos” em 2016. A pergunta que fica é se o agravamento da crise será suficiente para que o “velho” morra de vez. Ajudaria muito se o “novo” se esforçasse para nascer mais rápido.
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