Por Carlos Chagas

A partir dessa nova onda de delações premiadas há quem se preocupe com a sorte do governo, da presidente Dilma, do ex-presidente Lula e do PT. Só por milagre eles recuperam popularidade e prestígio, mas podem perder mais coisa. A começar pelas eleições deste ano e de 2018, entrando na equação o próprio poder. O impeachment de Madame já não está tão longe quanto há duas ou três semanas. O volume de acusações dessa nova safra de denúncias surpreende pelo envolvimento, a participação e a tolerância de gente antes considerada acima de qualquer suspeita.

Tome-se a entrega da BR Distribuidora ao ex-presidente Fernando Collor pela presidente Dilma. Foi ao vivo, em audiência palaciana. Não há como desmentir a “doação”, confirmada pelo próprio ex-presidente e por Madame.

Nem vale à pena ficar citando as delações personalizadas de Fernando Baiano, Cerveró e outros personagens. Mesmo que estejam ampliando acusações ou até mentindo em determinadas situações, prevalece a natureza das coisas. Políticos, empreiteiros e altos funcionários públicos tem sido condenados e presos por ação da Justiça. O país inteiro toma conhecimento de suas falcatruas e roubalheiras.

Reflexos e consequências surgem inevitáveis. Primeiro o desprezo dedicado pelo cidadão comum aos políticos, mesmo com uns poucos sendo injustiçados. Depois, a descrença nas instituições. Junte-se a falência dos governos, do federal aos estaduais e municipais, e se terá a receita da rejeição, pelo povo, de quantos um dia  imaginaram representá-lo.

É preciso prestar atenção no retorno de deputados e senadores a Brasília, no final do mês. Trarão na bagagem o sentimento de repúdio colhido junto às suas bases, até inutilmente dispostos a demonstrar pertencerem a outro universo, mas sabendo da mesma origem. Parece provável que venham menos tolerantes com o festival de corrupção revelado cada dia em maiores detalhes. Traduzindo: o impeachment da presidente Dilma ganhará força, senão bastante para destrona-la, pelo menos suficiente para intimidá-la. Cresce a certeza de que não adianta mais dar o dito pelo não dito e iniciar a ansiada recuperação nacional. Ninguém acreditaria. Nem eles.

 

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