André Singer – Folha de S.Paulo
Depois de breve ensaio interrompido pelo Carnaval, teremos na semana que vem o início efetivo do ano político, com o pleno funcionamento do Parlamento e do Judiciário. A julgar pelos toques da pequena abertura pré-carnavalesca, no entanto, a confusão, falta de rumo e de perspectivas legadas por 2015 dominarão também 2016. Ainda teremos que sorver várias taças repletas de erro até que apareça algum caminho acertado. Para começar, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), embora condenado pelo tribunal da opinião pública, mostrou que dispõe de mais munição do que se suspeitava para ficar no cargo. Em manobra fulminante deflagrada na terça, 2/2, o vice da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), anulou a decisão do Conselho de Ética de dar prosseguimento ao processo de cassação do deputado fluminense. Em paralelo, o Supremo Tribunal Federal parece ter chegado à conclusão que não tem condição de retirar Cunha da presidência da Câmara. Isso significa que, apesar dos fortes indícios levantados pela Operação Lava Jato contra o parlamentar – agora acrescidos da descoberta de mais cinco contas no exterior –, o provável desfecho envolverá longa luta em plenário.
Em consequência, o fantasma do impeachment de Dilma Rousseff, principal linha defensiva de Cunha, continuará a ameaçar a democracia. Mesmo que desgastada nas ruas, justamente pela identificação com Cunha, com nítido efeito de esvaziamento sobre as manifestações oposicionistas de dezembro, a sombra do impeachment bloqueará a agenda parlamentar. Nem a pouco atrativa dupla plataforma governamental –volta da CPMF e reforma da previdência– tem condição de tramitar, nem partidos da oposição animar-se-ão a apresentar perspectiva própria. É como se todos estivessem a esperar o suposto governo Temer, que, por sua vez, morreu antes de começar. A esperança de que surgisse uma alternativa a partir da substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa foi desfeita pela nova fase da Lava Jato. Apenas a liderança de Lula, à frente de uma estratégia de sobrevivência eleitoral petista, poderia reunir forças para tentar a reativação da economia ainda este ano.
Forçado a cuidar da própria imagem, sabe-se lá por quanto tempo, o ex-presidente é carta fora do baralho até o desfecho dos imbróglios que o envolvem. Embora a abrangência, cada vez maior, da Lava Jato justifique ação prolongada, talvez fosse o caso de indicar aos policiais, procuradores e juízes que os custos políticos envolvidos na operação recomendam dar celeridade às conclusões. Quem sabe precisemos engolir muitas doses de erro até aprender a acertar. Mas, se assim for, que as tomemos rápido. A prolongada sensação de paralisia é péssima conselheira.
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