Por Eliane Cantanhêde
O processo contra Eduardo Cunha entra na reta decisiva no Supremo Tribunal Federal e o presidente da Câmara se prepara para voltar para casa levando na bagagem um fardo do qual jamais vai se livrar: foi ele quem salvou o mandato da presidente Dilma Rousseff. Com sua biografia, suas contas na Suíça e suas relações vorazes com a Petrobrás, quanto mais se empenhou em derrubá-la, mais conseguiu salvá-la. Como disse importante aliado dele, “o Eduardo vai ter de conviver com isso para sempre”.
Chegamos, então, à perspectiva de mais três anos com Dilma, num 2016 de dar medo: rombo de R$ 60 bilhões nas contas públicas, inflação não só acima da meta, mas acima do próprio teto da meta, risco de três anos seguidos de recessão. Os anúncios fúnebres se sucedem: numa semana, o desastre da indústria; na outra, o desespero do comércio; na seguinte, até os serviços despencam. E os empregos? O gato comeu.
As expectativas são desanimadoras na economia, a política está para se livrar de Eduardo Cunha, mas nem por isso vai virar uma maravilha, e a Lava Jato corre solta, agora com o foco no senador Delcídio Amaral e em tudo o que ele pode revelar de eletrizante sobre a Petrobrás em sucessivos governos.
Nada disso nos conduz a um exercício de otimismo pelos próximos três anos, sem falar que a relação entre o vírus zika e a microcefalia é cada vez mais evidente, a dengue já é uma epidemia, a chikungunya está por aí e que até a sífilis congênita está saindo das catacumbas para assustar, por exemplo, o Espírito Santo.
Se o presente é um desastre, o futuro é incerto, não sabido e preocupante, abrindo uma janela para uma inflação de presidenciáveis de todo tipo querendo se dar bem na crise de credibilidade e de lideranças dos principais partidos e dos candidatos mais vistosos à luz do dia.
A candidatura de Lula depende de tríplex, sítio, empreiteiras, medidas provisórias, mulher e filhos, mas o PT terá certamente um candidato próprio, mesmo que seja para defender o partido nos debates, na TV e no rádio. Mas, se Lula é uma incógnita, o PSDB é um saco de incógnitas.
Aécio Neves é o nome mais natural, mas ele está fora dos holofotes e, em vez de acrescentar, vem perdendo votos em sua cesta de 2014 com as agruras de Dilma e Lula. Geraldo Alckmin namora o PSB e vice-versa. José Serra está próximo do PMDB, que anuncia candidatura própria e joga ao vento Eduardo Paes – se vencer na Olimpíada.
Hoje mesmo surge um novo nome em meio à polarização, com a filiação do senador Cristovam Buarque ao PPS, não para ganhar, mas para divulgar ideias. O PDT, de onde Cristovam sai, deve ir de Ciro Gomes, que já foi PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB, PROS e hoje já fala e age como candidato do partido. Outro ex-tucano da lista é Álvaro Dias, agora no PV que alavancou Marina Silva. Ela enfim materializou a Rede Sustentabilidade e é uma das opções fortes para 2018.
Também já se alvoroçam, pela esquerda, a indefectível Luciana Genro, (PSOL), e, pela direita, Jair Bolsonaro (PP), tendo parte dos militares na retaguarda, e Ronaldo Caiado (DEM), impulsionado pelo agronegócio.
É gente que não acaba mais, o que nos remete a 1989, que teve de tudo um pouco e acabou dando no mais improvável, Fernando Collor. É por isso que já se ouve, daqui e dali, “quem vai ser o Collor de 2018?”. Tira essa zika pra lá!
Em 1989, o Brasil abria os horizontes para o novo, o arrojado e o futuro, o que Collor, injusta e dramaticamente, encarnou. Em 2016, fecha-se um ciclo que começou pela direita com Collor, passou pelo centro e chegou a um fim melancólico e surpreendente com o PT (quem, em 1989, poderia imaginar tudo isso?) Não é hora de aventuras nem de arrojo, mas de segurança, estabilidade e credibilidade. Estes três anos dirão.
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