Efeito da crise: eleição indireta?
Brasília tende a viver uma semana extremamente agitada e tensionada devido ao agravamento da crise nacional após o episódio envolvendo o depoimento de Lula, sob coerção, à Polícia Federal, sexta-feira passada. Os indícios disso foram dados desde ontem, quando se confirmou o ministro Teori Zavascki fazendo uma reunião de emergência no Supremo Tribunal Federal. Já li de tudo sobre a crise. Jornalista experiente na cobertura de crises, o colunista Merval Pereira escreveu que se a política não resolver a crise, a crise vai resolver a política. Esta é uma constatação que fica mais evidente ainda diante da iniciativa de militares de contatarem na sexta-feira autoridades civis – governadores de Estados estratégicos como Rio e São Paulo, ministros, líderes partidários – para colocarem à disposição tropas em caso de necessidade de garantir a ordem pública.
Ricardo Noblat, da velha guarda da Imprensa nacional, avaliou que os generais estão temerosos com a conjugação das crises política e econômica e com o que possa derivar disso. Cobram, segundo ele, insistentemente aos seus interlocutores do meio civil para que encontrem uma saída. Não sugerem a solução A, B ou C. Respeitada a Constituição, apoiarão qualquer uma – do entendimento em torno de Dilma ao impeachment ou à realização de novas eleições. Mas pedem pressa. Por inviável, mas também por convicções democráticas, descartam intenções golpistas. Só não querem se ver convocados a intervir em nome da Garantia da Lei e da Ordem como previsto na Constituição.
Elio Gaspari, outro monstro sagrado da mídia nacional, foi mais fundo. Alertou quanto à deflagração de um processo mais rápido do que se possa esperar para apear Dilma do poder. O receio dele está relacionado a quem colocar no lugar dela. Pelo caminho do impeachment, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) assume no dia seguinte.
Mas se o processo se der via TSE, cassando a chapa Dilma-Temer, assumirá o presidente da Câmara, ainda hoje Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que fica obrigado a convocar eleições em até 90 dias. Se a lâmina do TSE cair depois do início de julho, entretanto, a eleição presidencial poderá coincidir com a eleição municipal de outubro.
Quem seriam os candidatos? Marina Silva, sem dúvida, a primeira. Além dela, quem sobreviver na briga dos tucanos entre Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin. Resta também a possibilidade de aparecimento de um meteoro. Esta opção expressaria a vontade popular.
No caso de o TSE cassar a chapa Dilma-Temer a partir de 1 de janeiro do ano que vem, deputados e senadores elegerão 30 dias depois ou seu substituto, para concluir o chamado mandato tampão. Votam, assim, todos aqueles que estiverem no exercício de suas funções. Se continuarem nas cadeiras, Eduardo Cunha presidirá a eleição e Delcídio Amaral, o senador-bomba, que jogou, há pouco, lenha na fogueira com a sua delação premiada, também votará, para o infortúnio do País. Esse colégio eleitoral será composto por 594 políticos de mandato.
Destes, 513 deputados e 81 senadores, 99 têm processos à espera de julgamento no Supremo Tribunal Federal. E são 500 os inquéritos em andamento envolvendo parlamentares. Vinte e um anos depois da campanha das diretas, o regime democrático brasileiro corre o risco de eleger indiretamente um presidente da República. Eis o legado do PT, eis a herança deixada por Lula ao pedir aos brasileiros para eleger uma anta.
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