Por Leandro Colon  / Folha de S.Paulo

 

É de risco qualquer aposta em Brasília diante da influência de fatos revelados a cada dia pela Lava Jato ou de decisões desastradas tomadas por protagonistas políticos (como a nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil). Uma previsão para o amanhã fica suscetível a um novo elemento que hoje pode surgir e mudar a rota prevista.

Mesmo assim, não há muita dúvida dentro do Congresso de que o adeus peemedebista ao governo de Dilma Rousseff nesta terça (29) deve selar o destino do processo de seu impeachment. A não ser que um fato novo — sempre ele — seja capaz novamente de mudar a temperatura da crise, o desembarque do PMDB indica um roteiro definido e sem volta para o futuro da presidente no Palácio do Planalto — um cálculo que leva em conta os sinais trocados de Renan Calheiros, que dificilmente segurará a onda anti-Dilma no Senado.

Mantidas as condições normais (se é que existem) de temperatura e pressão da política, a debandada de outras legendas da base, a partir do gesto do PMDB, tende a ser iminente. O PRB, que passou despercebido pelo Ministério do Esporte, já caiu fora. PR, PP e PSD sinalizam o mesmo.

Não que tais legendas estejam preocupadas com o rumo do país e o combate à corrupção no governo federal, ou com a economia deteriorada a que o Brasil foi levado pelas mãos de Dilma e de seu time ineficaz. E muito menos com o teor jurídico do processo de impeachment na Câmara (provavelmente nem se deram o trabalho de lê-lo até agora).

São aliados de ocasião que integraram o governo nos últimos anos, lotearam ministérios e deram sua parcela para a degradação política e econômica que tomou conta da administração federal. Alguns de seus indicados estiveram no epicentro de escândalos da Esplanada na gestão petista, como o PR no Transportes, o PP nas Cidades e na Petrobras. É o fisiologismo de outrora e de hoje que, em meio ao naufrágio quase irreversível de Dilma, corre para pular fora do seu barco e subir o quanto antes no do vice Michel Temer.

Não estarão ali para tirar da lama o país que ajudaram a atolar. Querem só garantir um ministério ou uma diretoria qualquer de uma estatal dona de contratos milionários.

 

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