As primeiras notícias do governo Temer foram recebidas com festa e euforia pelos porta-vozes do PIB. O ainda vice-presidente promete um choque liberal na economia, com redução drástica dos gastos públicos e do tamanho do Estado.
Um novo plano elaborado por sua equipe fala em mudar a lei de licitações e em privatizar “tudo o que for possível”. O anterior, batizado de “Ponte para o Futuro”, defende a flexibilização das leis trabalhistas, o fim das despesas obrigatórias com a saúde e a desvinculação do salário mínimo aos benefícios sociais.
É difícil imaginar que algum candidato fosse eleito no Brasil com uma agenda assim, que faria corar muitos tucanos. Mas isso não vem ao caso, porque Temer não terá que consultar o povo para vestir a faixa.
Cada um é livre para torcer pelo projeto que lhe pareça melhor, mesmo que a preocupação com o próprio bolso venha antes do resto. No entanto, a prudência recomenda um olhar atento aos personagens do novo regime, e um exame mínimo da viabilidade de suas promessas. Quem sonha com uma máquina pilotada por técnicos apartidários, e livre dos vícios da era petista, vai acordar num país governado por deputados do PMDB e assemelhados.
A propaganda do corte de ministérios já começou a fazer água. Ontem a Folha noticiou que o vice desistiu de reduzi-los a 20 para acomodar partidos que votaram pelo impeachment. A conta subiu para 26 e ainda deve aumentar até a posse. Há riscos de retrocesso em outros setores. A bancada evangélica, que se uniu para derrubar Dilma Rousseff, agora apresenta a fatura. Na quarta, Temer recebeu e orou com o pastor Silas Malafaia, conhecido pela pregação ultraconservadora na TV. Ele cobrou o fim da distribuição de material didático que ensina as crianças a respeitarem a diversidade sexual. Dois dias depois, vazou-se que o vice deve entregar o Ministério da Educação ao DEM, que abriga os políticos da igreja do pastor.
Por Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
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