Gabriel Mascarenhas e Aguirre Talento / Folha
Além de conduzi-lo para prestar depoimento, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do ex-ministro Guido Mantega, em São Paulo, durante a 7ª fase da Operação Zelotes, deflagrada na manhã desta segunda-feira. A Folha apurou que as investigações apontaram indícios de movimentações financeiras incompatíveis com a renda de Mantega. Em novembro, a Justiça determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-ministro da Fazenda dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Além disso, os pedidos de condução e buscas envolvendo Mantega se embasaram em suspeitas de que ele teria negociado com lobistas a nomeação de ao menos um conselheiro do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais).
PROPINAS NA FAZENDA
A Zelotes mira em um esquema de pagamento de propina a integrantes do Conselho, vinculado ao Ministério da Fazenda e responsável por julgar recursos de multas aplicadas pela Receita Federal.
A ação desta manhã teve como alvo principal a Cimentos Penha, cujo dono é Vitor Sandri, que foi apresentado a Mantega antes de ele ocupar uma cadeira na Esplanada. Eles se conheceram na década de 90, quando fizeram um negócio, envolvendo dois terrenos do ex-ministro em São Paulo.
A Cimentos Penha é uma das empresas suspeitas de subornarem conselheiros do Carf. A companhia recorreu ao colegiado contra uma atuação aplicada pela Receita de R$ 57,7 milhões, em valores de 1998.
DEPOIMENTO
Nesta segunda, Mantega prestou depoimento por cerca de duas na Superintendência da PF na capital paulista e negou qualquer participação em ilegalidades no Carf. Argumentou que cabe ao ministro da Fazenda nomear conselheiros do órgão e, por isso, cumpriu seu função institucional.
Ele confirmou a relação comercial com Sandri, mas disse que jamais atuou para beneficiá-lo em qualquer esfera pública. O ex-ministro lembrou ainda que, quando comandava a Fazenda, criou a Corregedoria do Carf, responsável por receber queixas e denúncias relativas ao colegiado.
OUTRO LADO
Advogado que acompanhou Mantega no depoimento, Guilherme Batochio afirmou ser absurda e desnecessária a condução coercitiva de seu cliente.“Ele prestou depoimento nesse mesmo inquérito há três meses, jamais se apôs a prestar esclarecimentos. A condução é ilegal”, criticou Batochio. O defensor argumentou que bastava uma solicitação da PF para Mantega comparecer à Superintendência. “Esse tipo de prática não é digna de um Estado democrático de direito”, concluiu Batochio.
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