Por Carlos Chagas

Por maiores elogios ao desenrolar ordeiro e ordenado da sessão do Senado que em mais de vinte horas aprovou a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma, a verdade é que o país presenciou outra marcha da decadência.  Menos pelos excessos e abusos verbais de  parte dos senadores, mais porque afastar quem ocupa a suprema magistratura da nação revela a fragilidade das instituições.

Importa menos saber as causas reais do afastamento de Madame, desde o fracasso da política econômica à sua arrogância e presunção até o desprezo com que tratou o Congresso. Mais grave é assistir o Brasil no fundo do poço, com  quase doze milhões de desempregados, a paralisação das atividades produtivas, a imobilização  dos deveres do poder público e o abandono da população.

Não será a ascensão de um governo provisório incapaz de recuperar tempo e espaços perdidos, ainda mais pelo retrocesso que se anuncia com o retorno de concepções elitistas e neoliberais Em especial porque, para ser afastada em definitivo, Dilma precisará da condenação de 54 senadores, sobre 81, quando seus adversários obtiveram apenas 55 para escanteá-la. Dois senadores que sejam, mudando o voto, restabelecerão seus poderes em  plenitude, depois de longo e penoso julgamento.

O embate não terminou, apesar da euforia dos vencedores de ontem. Voltam-se as atenções para as primeiras iniciativas de Michel Temer, depois da frustração que foi o anúncio de seu ministério.

O Brasil continuará dividido, na realidade girando em círculos e entregue às mesmas fantasias de sempre, como agora que cresce outra vez a proposta de adoção do parlamentarismo. Trata-se de um engodo que apenas interessa ao Congresso.  Dois plebiscitos numa só geração demonstram que a nação é contra. Em meio à corrupção permanente que atinge a classe política, seria correto entregar mais prerrogativas aos deputados?

As reformas de base poderiam ter sido adotadas pelo Lula, num de seus dois governos. Dilma também não avançou. Conseguiria um presidente provisório sucesso?

Em suma, haverá que aguardar, inclusive pelas eleições municipais de outubro. Com o PT devolvido à oposição, resta saber quando o novo presidente Michel Temer receberá  seus primeiros panelaços.

 

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