Débora Álvares, Ranier Bragon e Daniela Lima
Folha
O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta terça-feira (21) que não tem “o que delatar”. “Não tenho crime praticado”, explicou. O peemedebista disse ainda que não pretende renunciar ao cargo de presidente da Câmara. “Como vocês viram, eu não renunciei”, ironizou.
O deputado convocou uma entrevista coletiva para rebater acusações e atacar adversários, como a presidente afastada Dilma Rousseff e ex-integrantes do governo petista.
Ele ainda fez uma espécie de defesa de seus recursos à Justiça e disse que o processo movido contra ele no Conselho de Ética da Câmara está marcado por uma série de “nulidades”.
DEU COLETIVA – Cunha falou por mais de uma hora e vinte minutos em um hotel na região central de Brasília. O deputado afastado afirmou que arcou pessoalmente com os custos de aluguel do espaço e que apareceu sozinho diante da imprensa por opção pessoal.
Ele traçou um detalhado retrospecto de como ocorreu o rompimento de seu partido com o PT de Dilma, que culminou com o impeachment da presidente afastada. Cunha é considerado um dos personagens principais do afastamento da petista do cargo. Foi ele que, em dezembro do ano passado, deu andamento ao processo.
Nesse trecho da fala, acusou o ex-ministro da Casa Civil de Dilma, Jaques Wagner, de ter lhe dito pessoalmente em ao menos três ocasiões que poderia influenciar deputados do PT e o próprio presidente do Conselho de Ética a favor de Cunha caso ele enterrasse os pedidos de impeachment.
ENTRE DUAS PESSOAS – Questionado sobre por qual motivo não relatou os encontros com Wagner à época, Cunha disse que “refutou” e “ignorou” as iniciativas. “O problemas é que quando você denuncia esse tipo de coisa está sujeito a comprovação, entre duas pessoas que estiveram sozinhas. Hoje, reúno testemunhas e saberei provar”.
Ele chegou a afirmar que se tornou alvo de uma série de ameaças, “ameaças de morte” desde que aceitou o pedido de afastamento da petista, e que optou por não tornar esses episódios públicos. “Só não faço drama em cima disso”, disse.
O peemedebista chegou a ironizar a um pequeno protesto que ocorreu do lado de fora do hotel em que falava, dizendo que se tratava de uma prova das agressões que vinha sofrendo por parte de pessoas que “perderam a boquinha” nos governos do PT”.
SELETIVIDADE – Cunha também desferiu uma série de ataques ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem acusou de agir com seletividade. “Quantos petistas estão denunciados?”, indagou Cunha. “Ele age com seletividade e só se concentra no que lhe interessa”, disse Cunha.
Em 17 de abril, o processo contra Dilma foi votado na Câmara, depois de três dias seguidos de sessão. Ao longo da coletiva à imprensa, Cunha destacou a sessão como histórica, a mais longa do Congresso.
CHEGOU SOZINHO – O deputado chegou ao Hotel Nacional, na região central de Brasília, dois minutos antes do marcado para a entrevista desta manhã. Sozinho, sentou-se à mesa com seis lugares. Pediu paciência aos jornalistas. Disse que não fala desde que prestou depoimento ao Conselho de Ética, em 19 de maio. “Político e microfone…”.
Com pouco mais de meia hora de coletiva, chegaram dois deputados do PMDB de Minas, o ex-ministro de Dilma Mauro Lopes e também Saraiva Filho.
Do lado de fora do hotel, um grupo pequeno de manifestantes faz barulho enquanto Cunha fala. Com vuvuzelas e cartazes protestam contra o peemedebista, que ainda fala.
Nos últimos dias, o peemedebista recebeu congressistas próximos na residência oficial para ajustar os termos da sua entrevista. Cobrou apoio do governo Temer a ele. Foi aconselhado a renunciar. Não respondeu.
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