Imagine um bancário que, ao conversar com um dos clientes do banco consegue extrair um mote para fazer um poema. Até mesmo as figuras mais tresloucadas e inusitadas do bairro do Alecrim, onde morou parte de sua vida, se transformam em personagens líricos para sua poesia. Marcos Antônio Campos, leitor desde sempre, gostava de rabiscar uma coisa ou outra no papel, mas não se levava a sério como poeta. Até que instituições culturais começaram a premiá-lo por poesias que enviava. O primeiro livro “Um Bêbado Sonhador” que será lançado nessa terça-feira, 25 de outubro, na AABB, na Hermes da Fonseca, a partir das 18h, levou cinco anos para ser concluído.
Mas, 16 poesias, dentre as várias contidas nele, já ganharam o mundo e prêmios literários. “Eu não acreditava em mim, só mudei essa visão quando comecei a enviar poemas para prêmios e a receptividade foi muito boa”, lembra. Inclusive, após o lançamento em Natal, Marcos Campos irá à cidade de Paranavaí (PR) para receber o Prêmio Barriguda, pelo poema “Cálice” que está no livro. Um Bêbado Sonhador comporta tanto poemas em versos, quanto poemas visuais e concretos. Deixando de lado o costumeiro “eu lírico”, as observações do cotidiano e seu inegável olhar criativo dão o mote para sua escrita.
O poema Subliminar, por exemplo, nasceu a partir de uma frase que ouviu de um bispo, no qual ele dizia que toda palavra era “uma semente”. “Primeiro, tentei fazer um soneto. Mas, depois comecei a refletir sobre a palavra e sobre a força do palavrão, então fiz um poema com versos sobre a palavra, e num outro verso, disposto como se refletisse um espelho, sobre a força do palavrão”, explica. Um outro intitulado Infernando também foi extraído de uma conversa com um cliente. Formado em Letras, Administração e Ciências Contábeis, Marcos Campos vai oferecer algumas surpresas aos leitores no dia do lançamento. Porque ele acredita que o exercício da poesia comporta mais que leitura: “Eu opto por brincar com as palavras. A poesia não deve ser só lida, ela deve ser sentida, vista, declamada, dançada, vivida”, sugere.
De maneira que, ninguém duvido que ele fará várias coisas para comprovar suas teorias. Sua rotina de escrita geralmente se dá à noite. Ao ler outros escritores, sempre pode surgir uma ideia. E até mesmo quando está atendendo a um cliente no Banco onde trabalha: “o poema “Infernando” foi extraído de uma conversa com um cliente no banco. Noutro, ‘Desamarrar o bode’ também”. Campos faz parte da Sociedade dos Poetas Vivos e sempre está se reunindo com amigos e escritores para um bate-papo num café cultural de uma livraria da Cidade. De lá, também saem algumas inspirações para escrever. As leituras prediletas são várias: Catulo da Paixão Cearense, Patativa do Assaré, Castro Alves e, sobretudo, Augusto de Campos são seus brasileiros preferidos. Já no campo internacional, Campos gosta da poesia russa, de Bocage, Florbela Espanca, Garcia Lorca e Baudelaire. “Para que a poesia aconteça é necessário o leitor. Você não escreve para si mesmo. Me considero um leitor. Gosto de riscar o que estou lendo e passar livro adiante”, diz Campos.
Um bêbado sonhador – poesia – Caravela Selo Cultural
Lançamento – Terça-feira, 25 de outubro
Local: AABB – Hermes da Fonseca / Hora: das 18h às 21h / Preço: R$ 50
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