Via Blog do Magno 

Esquecida propositadamente ou em função dos escândalos e da crise nacional, a maior seca dos últimos 50 anos, focada por este blogueiro numa andança de 10 mil km, que resultou no livro Reféns da Seca, enfim, virou pauta da mídia nacional. A revista Veja desta semana traz números assustadores. Relata que o abastecimento de água em centenas de cidades já entrou em colapso e adverte que Fortaleza pode ficar sem água em marco.

Estado com a pior situação hídrica do Nordeste, o Ceará tem hoje apenas 7,4% de estoque nos açudes. O terceiro maior reservatório cearense, Banabuiu, está com 0,5% do volume, o que é considerado seco. Em Quixeramobim, não resta mais uma gota dos 54 milhões de metros cúbicos que o açude local é capaz de armazenar. Desde o ano passado, a água consumida pela população do município está sendo retirada de cinco poços artesianos perfurados no leito do reservatório, com 20 metros de profundidade, em lama ressecada.

Em Fortaleza, a população tende a enfrentar um racionamento severo. Se não chover, ficando sem as fontes convencionais, a água terá de ser obtida por meio de navios-usina que drenam a água do oceano e a dessanilizam antes de injetá-la na rede de distribuição, processo cinco vezes mais caro que o tratamento de água doce. Caso essa medida extrema precise ser adotada, os custos recairão sobre a população.

Na Paraíba, o maior açude do Estado, o de Coremas, só dispõe de 2,2% de sua capacidade de 590 milhões de metros cúbicos. Situação semelhante acontece com o açude Boqueirão, que atende Campina Grande e outras dez cidades. Está com 6% da sua capacidade. O reservatório tem servido uma água com gosto salgado que demanda maior esforço para purificação.

Na área mais castigada pela seca no Nordeste vivem 23 milhões dos 56 milhões de habitantes da região. Esse contingente está espalhado em 1.050 cidades, o que representa uma taxa de ocupação de 24 habitantes por quilômetro quadrado. Dos 39 bilhões de metros cúbicos de água que podem ser armazenados nos reservatórios nordestinos, restam apenas 18%.

SEM SAQUES– A revista destaca que, apesar da gravidade da situação, ascendeu socialmente mais que qualquer outro brasileiro. Relata que em 2001, o porcentual de pobres e vulneráveis era de 66%. Em 2012, ano mais seco desde que a estiagem atual começou, essa parcela da população havia caído para 45%. O que amenizou foram os efeitos dos mecanismos de proteção de renda, como o programa Bolsa-Família, que evitou saques, reduziu o êxodo e, principalmente, matou a fome de muita gente.

Interiorização do desenvolvimento– Para o economista pernambucano Gustavo Maia Gomes, ouvido pela revista, em um primeiro momento o que amenizou o sofrimento dos nordestinos foram as aposentadorias e os empregos públicos e, depois, os programas de transferência de renda. “Mas o que fez mesmo a diferença foi a interiorização do desenvolvimento”, diz Maia, especialista em desenvolvimento regional. Segundo ele, os créditos educacionais e as obras de infraestrutura geraram emprego e renda necessários para enfrentar a seca. “Em termos hídricos, estamos vivendo a pior seca da história, mas, socialmente, o impacto é baixo”, afirmou.

 

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