Quando se fala na Praia de Ponta Negra, logo se pensa em turismo, beleza natural e cartão postal da cidade. Mas o nativo, morador ou visitante mais atento sabe que a Praia de Ponta Negra – assim como as demais da orla urbana – tem acumulado problemas ao longo dos anos. Ora é o mar que avança e destrói o calçadão, ora é a tentativa de construir espigões em área proibida. Ciente do papel da Justiça no disciplinamento do uso de áreas urbanas, como é o caso daquele pedaço de mar, a promotora Gilka da Mata sabe também que só a Justiça não consegue resolver todos os problemas. O engajamento dos moradores, dos comerciantes e empresários na preservação da praia é fundamental: “Não acredito no meu trabalho isolado na área do meio ambiente”, afirma ela. Por isso, lança na próxima quinta-feira (15), das 17h às 22h, no Galeria Fernando Chiriboga, no 3º Piso do Midway Mall, o livro “Bases para o Desenvolvimento Sustentável das Praias Urbanas – Avaliação da Praia de Ponta Negra” (Caravela Selo Cultural – Série Humanidades I), que será vendido ao preço de R$ 25,00.

Gilka da Mata fez um recorte temporal para basear seus estudos dos últimos 15 anos, nos quais pode-se constatar, com bastante ênfase, mudanças naquela praia com a degradação da qualidade ambiental, no que diz respeito à balneabilidade da água; erosão costeira; alteração da paisagem, dentre outros problemas. O livro não só levanta questões, como aponta caminhos. “Será possível estabelecer uma forma de uso e de gestão dos espaços praianos que leve em consideração um tipo de racionalidade capaz de garantir a sustentabilidade das funções ambiental, social e econômica desses espaços? “A racionalidade ambiental”, teoria defendida pelo economista mexicano Enrique Leff é uma das propostas defendidas pela pesquisadora e promotora do Meio Ambiente.

Segundo explica no livro, tal conceito “seria um processo político e social; como uma categoria que aborda relações entre instituições, organizações, práticas e movimentos sociais; como um conjunto de ações que passa pela confrontação e concertação de interesses opostos; que leva em consideração práticas sociais induzidas pelos valores do ambientalismo e que afetam as formas de percepção, acesso e usufruto dos recursos naturais, assim como a qualidade de vida e os estilos de desenvolvimento das populações. Assim, a Racionalidade Ambiental deve ser entendida como aquela capaz de orientar ações sociais para o desenvolvimento sustentável; aquela que implica a integração interdisciplinar do conhecimento; que envolve o planejamento transetorial da administração pública; a participação da sociedade na gestão dos recursos ambientais”, dentre outros pontos.

Longe de se contentar com a vaidade na condição de promotora de Justiça e de conseguir com que alguns problemas sejam avaliados judicialmente, Gilka da Mata se reveste de uma causa cidadã, de uma causa que ela acredita que deva ser compartilhada com todos os envolvidos. “Ganhar uma causa (judicial) é muito bom. Mas um promotor só não vai resolver os problemas”, conclama ela, fazendo um convite à reflexão.

O livro é uma versão resumida da sua Dissertação de Mestrado “Praias Urbanas e Racionalidade Ambiental: Avaliação da Gestão, das Intervenções Urbanísticas e dos Usos na Praia de Ponta Negra” (2015), feita no Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais (PPEUR) da UFRN.

O livro foi dividido em três capítulos. No primeiro, ela trata de racionalidade ambiental e desenvolvimento sustentável; o segundo faz uma abordagem histórica, teórica e normativa sobre a paisagem e o terceiro ela relembra casos concretos que ocorreram em Ponta Negra, que se tornaram objeto de processos judiciais e inquéritos civis. “Ao final, o leitor vai poder ver uma avaliação de como têm sido as intervenções, os usos e a gestão da Praia sob o prisma do desenvolvimento sustentável. Levando em consideração as bases para o desenvolvimento ambiental das praias urbanas, o leitor poderá realizar sua própria avaliação em relação às praias que frequenta ou tem interesse”, finaliza ela.

 

 

 

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