Por Álvaro Costa e Silva – Folha de S.Paulo

Meu amigo Ivan Soter, grande historiador do futebol e autor da “Enciclopédia da Seleção” (Edições Folha Seca), não tem dúvida: Mané Garrincha, hoje, conseguiria facilmente um emprego na Odebrecht. Garrincha era o rei dos apelidos. O seu é o nome de um pássaro pequenininho, mas de canto bonito. Nenhum companheiro de clube ou dos times do Brasil nas Copas de 1958 e 1962 escapava de seu poder de observação e humor de caricaturista. Nem os cartolas: o poderoso Paulo Machado de Carvalho virou “Cabeça de Telefoto”.

A lista é longa, de morrer de rir e expõe algumas crueldades típicas: Zagallo (“Dedo-Duro” ou “Caspinha”), Nilton Santos (“Caminhão”), Paulinho de Almeida (“Meio-Queixo”), Dorval (“Boca de Chinelo”), Castilho (“Frankenstein” ou “Bóris”), Djalma Santos (“Fornalha” ou “Nariz Bossa Nova”), Coronel (“Cara de Boneco”), Zito (“Chulé”), Coutinho (“Carvãozinho”), Zózimo (“Boneco da Esso”), Altair (“Zezé Macedo”), Mengálvio (“Pluto”), Jair da Costa (“Palito de Fósforo”), Amarildo (“Papagaio de Puteiro”), Mauro (“Beleza”), Pepe (“Mulher de Trinta”), Pelé (“Crioulo”), Didi (“Foca”, “Pescoço” ou “Saca-Rolha”).

Quase todo mundo levava na brincadeira. Ao contrário dos políticos citados por alcunhas, codinomes e antonomásias na delação da Odebrecht à Lava Jato. É surpreendente a notícia segundo a qual alguns deles — não se sabe se “Boca Mole”, “Todo Feio”, “Bitelo” ou “Angorá” — ficaram mais irritados com os vulgos do que com a revelação dos crimes que teriam cometido contra o país. Pensando bem, nada mais surpreende.

Michel Temer, que aparece citado 43 vezes em uma só deduragem, ganhou um codinome óbvio e sem sal: “MT”. Os corruptores poderiam se inspirar em certos apelidos do presidente que correm à boca larga — não à boca mole — entre o populacho. Meu preferido é “Mãozinha”.

 

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