Por Carlos Newton
Em termos de marketing, poder-se-ia dizer que Michel Temer não é nenhuma Brastemp, mas não há dúvida de que seu governo é incomparavelmente superior à gestão de sua antecessora Dilma Rousseff, que posava com ares de gerentona, mas na verdade não passava de uma incompetente governanta. Temer herdou um rabo de foguete, todos sabem. É refém dos caciques do PMDB, todos sabem. E tenta somente se equilibrar no poder, todos sabem.
COVIL DE TRAPALHÕES – O pior de tudo é que Temer está sendo pessimamente assessorado. Ao invés de se tornar um reduto de raposas políticas, o Planalto se transformou num covil de trapalhões altamente despreparados, que ajudam a destruir a imagem do presidente da República, ao invés de fortalecê-la.
O cargo de chefe de governo é de caráter representativo e requer assessoria de altíssimo nível. Como o presidente não pode pensar em tudo, é preciso que alguém o faça. E o bom senso recomenda que seja acompanhado dos melhores. Mas não é isso que está acontecendo.
IMAGEM DEMOLIDA – Ao contrário do que se esperava, a imagem de Temer está sendo progressivamente demolida pelos próprios assessores. Basta ver o que aconteceu agora no episódio da chacina de Manaus, em que 56 presos foram mortos, muitos deles decapitados e até esquartejados, numa repetição do massacre na penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão.
Ao invés de o presidente prontamente viajar a Manaus para tomar providências, foi recomendado a fazer exatamente o contrário. Os dias foram se passando, e Temer em silêncio. Até que não houve jeito, o próprio Papa Francisco já havia se pronunciado, Temer teve de convocar uma reunião às pressas nesta quinta-feira e dar uma declaração oficial.
Ao invés de haver um texto previamente escrito pelos assessores, o presidente foi atirado às feras, num improviso em que deu uma escorregada grotesca, ao classificar a sangrenta e desumana matança como um “acidente pavoroso”.
PELO TWITTER – Os assessores de Temer são tão amadores e primários que criaram para ele uma página no Twitter. Não sabem que o cargo de presidente da República é majestático, por isso ele mora em palácio e trabalha em palácio. Não pode se pronunciar a qualquer momento. Presidente tem de preservar a majestade do cargo, só fala à nação raramente, em assunto de máxima importância.
Não pode ter Twitter, isso é uma insanidade completa da equipe do Planalto. O presidente precisa se fortalecer para levar seu governo a bom termo, mas é atrapalhado pelos próprios auxiliares que são pagos para assessorá-lo.
O texto de Temer sobre a chacina de Manaus deveria ter sido escrito na primeira hora, não existe improviso sobre assunto de tamanha gravidade. O pior foi depois a intervenção do Twitter de Temer (que não é ele que escreve), na tentativa de explicar os significados da palavra “acidente”. Sinceramente, com auxiliares desse nível, não há quem possa ir muito longe.
OS TRÊS PATETAS – Os principais assessores de Temer nessas trapalhadas são conhecidos no Planalto como “Os Três Patetas”, liderados pelo chefe da Casa Civil, ministro Eliseu Padilha, operador das propinas do PMDB na Lava Jato e que está com os bens bloqueados, processado na Justiça de Mato Grosso por grilagem de terras públicas, devastação de 1,3 mil hectares de reserva ecológica e apreensão de 18 armas de fogo, inclusive fuzis de mira telescópica.
O segundo pateta é o assessor de imprensa de Temer, um jornalista desconhecido chamado Márcio de Freitas Gomes, que jamais teve cargo de destaque na mídia e desde sempre trabalhava no PMDB servindo aos caciques do partido, não tem currículo.
E o terceiro é o secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, advogado Gustavo do Vale Rocha, que também trabalhava para os caciques do PMDB e defendia Eduardo Cunha na Justiça. Foi ele quem mandou seu sócio a Curitiba, para convencer Eduardo Cunha a não fazer delação premiada. Todos sabem que foi Padilha quem deu a ordem para pressionar Cunha, mas quem vai levar a culpa é Temer. E la nave va, cada vez mais fellinianamente.
Poste seu comentário