El País – Afonso Benites

Quatro coveiros descem um simples caixão de madeira em uma vala e alguns lançam punhados de terra sobre ele no cemitério Campo da Saudade, em Boa Vista, capital de Roraima. Além de choro, orações, gritos e lamentações habituais em qualquer cerimônia de sepultamento, há tensão e comentários que se repetem em vários dos 14 enterros do local neste sábado. Fala-se que a guerra das facções criminosas, que matou 33 só no Estado, está apenas começando e logo ocorrerá banho de sangue em outras cadeias, principalmente no Norte do país. Dizem que Roraima não tinha nada a ver com essa briga, mas agora virou o foco e pode haver outras represálias inclusive nas ruas. E há uma indignação dominante: o Estado falhou na proteção aos seus detentos.

As opiniões de familiares e amigos dos mortos no massacre da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC), na última sexta, não são isoladas. Foram corroboradas por cinco autoridades e especialistas em segurança pública entrevistados pelo EL PAÍS. Todas foram categóricas em apontar que após os 97 mortos em Manaus e Boa Vista desde o primeiro dia do ano, o Estado de Rondônia deverá registrar novos ataques.

“Já recebemos vários informes de que a próxima chacina deverá acontecer em Porto Velho ou no interior de Rondônia. Repassamos a informação. Agora cabe aos governos se mexerem”, afirmou Lindoval Sobrinho, presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Roraima e diretor da Federação Nacional do Sistema Penitenciário. Assim como outros agentes, Sobrinho também teme ser vítima dos presos. Para onde vai, ele anda com uma pistola pendurada na cintura.

 

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