Por Carlos Newton
O sonho não acabou. Integrada por todos os partidos, com exceções que só confirmam a regra, a bancada da corrupção aproveita a disputa pela presidência da Câmara e se rearticula para reativar a chamada Operação Abafa, cujo objetivo é inviabilizar a Lava Jato. Já houve várias tentativas nesse sentido, todas elas com respaldo do Palácio do Planalto. A principal foi a sessão-fantasma da Câmara que Rodrigo Maia mandou convocar para uma segunda-feira à noite, quando ia ser aprovado um projeto sem autor conhecido, destinado a anistiar os crimes de caixas 2 eleitoral. A manobra, sugerida a Maia pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) só não deu certo pela reação de alguns deputados experientes, como Miro Teixeira (Rede-RJ) e Ivan Valente (PSol), que fizeram um escarcéu no plenário e abortaram o projeto bastardo – digamos assim, já que não tinha pai.
Mas havia outras iniciativas simultâneas na Operação Abafa, inclusive no Senado, onde Renan também tirou um projeto do arquivo e o transformou numa proposta anônima para punir abuso de autoridade, visando a inviabilizar a atuação da força-tarefa da Lava Jato e dos juízes da Lava Jato, da Zelotes e da Janus, emparedando o Ministério Público, a Polícia Federal e a Receita Federal, que vêm atuando em conjunto no combate à corrupção político-administrativa..
MEDIDAS ANTICORRUPÇÃO – Muito bem articulada, a Operação Abafa incluiu também a descaracterização do projeto das 10 Medidas contra a Corrupção, ao mesmo tempo em que azeitava a mudança dos acordos de leniência previstos pela Lei de Improbidade Administrativa, para fazê-los isentar de punição os empresários e políticos envolvidos nos esquemas de corrupção, vejam a que ponto essa gente chegou.
E as iniciativas da bancada da corrupção não paravam por aí, pois foram apresentadas outras propostas destinadas a prejudicar as investigações, como a fixação de um prazo-limite para autorização judicial às escutas telefônicas, era um verdadeiro festival em prol da corrupção.
Mas hoje em dia existe a internet. E a reação foi tão contundente que os organizadores da Operação Abafa tiveram de recuar. E num domingo, dia 28 de novembro, o presidente Michel Temer convocou uma entrevista coletiva, juntamente com Rodrigo Maia e Renan Calheiros, para garantir que não haveria anistia ao caixa 2 eleitoral, mas não tocou nos demais pontos defendidos pela bancada da corrupção. A decepção dos três, ao anunciar o recuo, foi constrangedora e reveladora.
DEPOIS DO RECESSO – Bem, veio o recesso parlamentar, o Natal e o Ano Novo, a poeira baixou. Mas de repente surgiu a candidatura do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) à presidência da Câmara, levantando novamente a bandeira da anistia ao caixa 2 eleitoral, que é do interesse de toda a classe política. Essa “plataforma eleitoral” de Jovair Arantes é tudo que a bancada da corrupção queria ouvir. Agora, a disputa pela presidência da Câmara realmente esquentou, porque Arantes imediatamente foi ao Planalto pedir a benção a Temer, que lhe garantiu não estar apoiando nenhum candidato.
Essa disposição de Jovair Arantes varrer para debaixo do tapete a sujeirada da classe política, com toda certeza, pode mudar o quadro da eleição para presidente da Câmara. A bancada da corrupção é majoritária. Se os outros candidatos Rogério Rosso (PDS-DF) e André Figueiredo (PDT-CE) desistirem, tudo pode acontecer, com a cumplicidade disfarçada do Planalto. Afinal, não se pode confiar no que Temer, Renan e Maia prometeram dia 28 de novembro, porque na política brasileira não é o interesse público que prevalece, e sim o interesse pessoal.
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