Quando o PT foi para o poder, frustrado desde sua fundação, derrotado três vezes com o Lula, mas afinal vitorioso, imaginava-se mudança fundamental na vida do país. Afinal, mesmo de forma lenta e gradual, porém segura, parecia ter chegado a hora do andar de baixo. Não mais a prevalência dos beneficiados pela fortuna, pelo berço ou pelas maracutaias, senão os primeiros passos para a conquista da melhoria das condições de vida dos despojados da fortuna e da ascensão dos trabalhadores a patamares menos cruéis de sobrevivência.
Empolgaram a imensa maioria dos cidadãos as pregações sobre igualdade, extinção dos privilégios de uns poucos e fim da livre competição entre quantidades e valores desiguais.
Seria extinta a miséria, reduzida a pobreza e gradativamente poderiam desaparecer as diferenças sociais responsáveis pelo fato de sempre os ricos ficarem mais ricos e os pobres, mais pobres.
Era nesse objetivo que se fixava o pequeno grupo de intelectuais e acadêmicos, entusiasmados com a experiência ímpar de ver um operário no governo. Também compareciam os sindicatos, a Igreja, os universitários e até parte da classe média.
Claro que mais se organizavam, desde muito já organizadas, as mesmas camadas beneficiadas de sempre, fáceis de identificar no empresariado, nos donos da terra, nos especuladores, banqueiros e demais condutores de uma sociedade que, pelo jeito, esgotara-se e se condenava ao fracasso.
Abria-se o palco para o confronto entre o passado e o futuro, ainda que subordinado a vícios de lá e de cá, corolário da imperfeição humana da qual jamais nos livraremos.
Pelo menos, estava evidente a importância de se alterar o modelo que nos acompanha desde o Descobrimento, cada vez mais sofisticado por maior sacrifício das massas e festa das elites. Criava-se no país a consciência da necessidade de interromper a progressão das vantagens que o dinheiro concede aos senhores e falta faz aos vassalos.
Imaginava-se, vale repetir, haver chegado o tempo do equilíbrio, pelo esforço de um grupo disposto não a recuperar, mas a criar o espaço de igualdade, porque liberdade, afinal, mesmo distorcida, já tínhamos, e fraternidade, conseguiríamos à força.
Alguma coisa se conseguiu, mas é preciso atentar para o fato de que desde a primeira eleição do Lula, as elites foram cooptando os personagens. Até o próprio, surpreendendo com uma anacrônica Carta aos Brasileiros, não endereçada aos seus eleitores, mas a leitores interessados em preservar benesses e vantagens. Ao redor, vicejaram falsos aliados, antigos cultores das mudanças, mas empenhados em isoladamente ascender de patamar através da corrupção, do roubo e da mistificação.
Apesar disso, algum resultado o primeiro companheiro conquistou, advindo daí sua reeleição. O diabo foi o segundo mandato. Sem reação, o Lula entregou-se aos destinatários da malfada carta.
O ideal igualitário naufragou e foi para as profundezas quando, não podendo disputar um terceiro período, vendeu sonhos que não eram mais dele. Assumiu a incompetência em forma de mulher. Foi simples questão de tempo as elites voltarem ao poder e às reformas que mais uma vez massacram e sufocam a maioria, de novo enganada e sufocada.
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