A política brasileira atingiu tamanho grau de de beligerância que palavras como “negociação”, “acordo” e “compromisso” foram substituídas por “desfigurado”, “recuo” e “ofensiva”.
O governo teria recuado na defesa de seu projeto de reforma da Previdência, que poderia vir a ser desfigurado pelos parlamentares. Essa ilusão parte de duas premissas erradas. Uma, de natureza subjetiva, supõe que Michel Temer seja burro, muito burro. Aos 76 anos, com seis mandatos de deputado (sempre com poucos votos), tendo presidido a Câmara em três ocasiões, por burrice, Temer mandou ao Congresso um projeto de reforma que não podia defender. A segunda ilusão, de natureza objetiva, supõe que o Congresso Nacional é uma empresa de consultoria. Ele pode ser um horror, mas é um poder da República, depositário da vontade popular e ao longo da história produziu menos desastres que os çábios da economia.
Temer mandou à Câmara um projeto para ser negociado. Ofereceu um obsequioso silêncio aos deputados de sua base que propuseram emendas alterando a proposta original. Faz tempo, quando Fernando Henrique Cardoso temeu pelo naufrágio de sua reforma da Previdência, chamou Temer para salvá-la. Depois, culpou-o pelas mudanças, mas até isso é do jogo. (Nessa época, o doutor aposentou-se aos 55 anos.)
Desde o primeiro momento podiam-se ver dois grandes bodes da proposta: os 65 anos para a aposentadoria das mulheres e a tunga nos aposentados rurais. O que há é o exercício saudável da negociação.
Fonte: Elio Gaspari – Folha de S.Paulo
Poste seu comentário