O ex-diretor da Petrobras Renato Duque falou nesta sexta-feira (5) pela primeira vez na Justiça Federal e fez acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em depoimento ao juiz Sergio Moro, Duque disse que se encontrou com Lula em 2014, já com a Operação Lava Jato em andamento, e que ouviu que não poderia haver contas no exterior em nome do ex-diretor.

O ex-diretor, que já foi condenado em quatro ações penais da Lava Jato, disse que Lula tinha “pleno conhecimento” e o “comando” sobre um esquema de pagamento de propinas em contrato da Sete Brasil, que fornecia sondas para a Petrobras, e que chegou a ser questionado sobre a demora na assinatura de um acordo, quando já tinha se desligado da estatal. Foram três encontros com o petista, afirmou no depoimento, de 2012 a 2014.

“Ele [Lula] me pergunta se eu tinha uma conta na Suíça com recebimentos da empresa SBM, dizendo que a então presidente Dilma tinha recebido a informação de que um diretor da Petrobras tinha recebido dinheiro na Suíça, da SBM. Eu falei: ‘não, nunca recebi dinheiro da SBM’.”

Duque continuou: “Ele vira para mim e diz: ‘E das sondas, tem alguma coisa?’. E tinha. Falei: não, não tem. E ele: ‘Presta a atenção: se tiver alguma coisa, não pode ter, entendeu? Não pode ter nada no teu nome.”

A seguir, disse o ex-diretor, Lula falou que iria “tranquilizar” Dilma.

Duque afirmou que era “responsável pela área do PT” na companhia e que, nos contratos da diretoria, o tesoureiro do partido procurava as empresas para pedir dinheiro. “Inicialmente o Delúbio [Soares], depois o Paulo Ferreira e posteriormente o [João] Vaccari. Tratei com os três”, afirmou. O ex-diretor afirma que, por indicação de Lula, Vaccari já fazia arrecadação para o partido com as empresas que atuavam na Petrobras mesmo antes de assumir o cargo de tesoureiro do PT.

Falou ainda que foi chamado em Brasília pelo ex-ministro Paulo Bernando, que disse: ‘Olha, você vai conhecer uma pessoa indicada pelo… [alisa a barba]’. Ele fazia esse movimento, não citava o nome. O presidente Lula era chamado como ‘chefe’, ‘nine’ ou esse movimento com a mão [alisar a barba]”, afirmou Renato Duque. O ex-diretor afirma que Bernardo disse a ele que Vaccari iria o responsável pelas “empresas que atuam na Petrobras”.

Segundo Duque, no PT, “todos sabiam” da existência do esquema. “Desde o presidente do partido, tesoureiro, secretário, deputados, senadores, todos sabiam”, repetiu. O ex-diretor da estatal disse que, apesar de não ser delator, tinha “intenção de atuar como colaborador”. Ele confessou que recebia propinas das empreiteiras em contas no exterior, mas afirmou que aceitará abrir mão de todo o dinheiro e repatriá-lo. A defesa de Duque é comandada pelo advogado Antonio Figueiredo Basto, especialista em delações na Lava Jato.

“Recebi valores. Nunca solicitei. Nunca pedi nenhum benefício em proveito próprio”, afirmou. “Quando atingiu US$ 10 milhões, eu pensei: isso é muito mais necessário do que eu necessito para viver e até a minha terceira geração”. O ex-diretor prestou depoimento em uma ação penal em que o principal alvo é o ex-ministro Antonio Palocci e na qual Lula não é réu.

Fonte: José Marques e Felipe Bachtold – Folha de São Paulo

 

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