O programa exibido pelos tucanos na TV foi retrato da completa falta de norte da sigla

 

Uma das muitas coisas que a Lava Jato parece ter implodido é a polarização PT-PSDB, que desde 1994 se revezam para ver quem “comanda o atraso” na política brasileira, como Fernando Henrique Cardoso definiu de maneira lapidar.

Enquanto o PT vive sua pior crise, com dois ex-presidentes da República investigados por terem promovido o maior assalto ao Estado da história do Brasil e alguns de seus maiores expoentes condenados e presos, o PSDB viu seus principais presidenciáveis tragados também pelas investigações e demonstra não ter ideia de que projeto e que nome apresentar como alternativa.

O programa exibido pelos tucanos na TV na última quinta-feira foi um retrato da completa falta de norte da sigla. Foi de dar pena, um espetáculo constrangedor.

Começa com uma roda de conversa entre o “povo” e jovens políticos tucanos sobre a necessidade de renovar a política. Um papo bobo, coalhado de clichês, quase uma sessão de autoajuda para políticos deprimidos pelo fato de já não saberem como convencer o eleitor de que a política ainda é um caminho virtuoso para tirar o País do atoleiro.

 

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Se havia até ali, naqueles primeiros minutos, alguém (que não por dever profissional) ainda assistindo àquela lenga-lenga, desligou imediatamente quando a tal conversa dá lugar a um suceder de políticos velhos, os mesmos de sempre. O desavisado que estivesse acreditando no papinho da renovação imediatamente deve ter falado: “Fala sério, essas são as caras novas que o PSDB quer me vender?”.

Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra viram suas pretensões de disputar a Presidência em 2018 atingidas em cheio pela Lava Jato. Enquanto as acusações que pesam contra eles não tiverem sido esclarecidas com o desenrolar dos inquéritos ou ações penais que venham a ser instauradas pelos tribunais superiores, não vão convencer as pessoas – essas mesmas que estão irritadas com a política – de que são diferentes.

Por mais que as acusações que pesam contra eles até aqui tenham dimensões e natureza diferentes do petrolão e de um projeto sistemático de uso do Estado para manter um partido no poder e enriquecer seus dirigentes.

O eleitorado que até 2014 via no PSDB a alternativa para derrotar o PT ameaça dar um cavalo de pau à direita em 2018. Pesquisas mostram rejeição crescente a Aécio, Alckmin e companhia. Mais: atrelado inexoravelmente ao governo Michel Temer, que discurso o partido terá para apresentar na campanha diante da baixíssima avaliação do presidente e de um legado que será, no máximo, um crescimento medíocre e mais denúncias de corrupção?

A propaganda partidária evidenciou que os caciques podem até apelar para o discurso da renovação, mas querem mesmo manter o status quo. Quem manda são Aécio, Alckmin e ainda FHC. Isso fica evidente diante da exclusão do prefeito de São Paulo, João Doria Jr., da telinha – seu palanque preferido e mais usado.

Doria sabe que terá de contar com a morte política dos “patriarcas” para ter chance de ser ele esse tucano novo. Mas também começa a demonstrar que pode alçar voo e abandonar o ninho ao deixar vazar em notas que preferiu não aparecer na TV ao lado de investigados na Lava Jato.

Em 2016, o então estreante em eleições desafiou a lógica dos mesmos de sempre e se sagrou candidato, mas, para isso, contou com o patrocínio empenhado de Alckmin, com quem agora disputa (ainda veladamente) a mesma postulação.

Agora, rotulado por Fernando Henrique como uma “novidade” do mesmo tipo que o apresentador Luciano Huck – ou seja, exótica e não digna de se levar a sério –, terá menos de um ano para fazer uma gestão que o projete nacionalmente e para vencer esse veto interno. Haja acelerador.

Por Vera Magalhães, O Estado de S.Paulo

 

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