Por Gustavo Aguiar
PT elegeu neste sábado (3) a senadora Gleisi Hoffmann (PR) como nova presidente da legenda. A eleição ocorreu durante a convenção nacional da sigla em Brasília. A parlamentar, que era a favorita na disputa, substituirá Rui Falcão.
Apoiada pela corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) – da qual faz parte o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – Gleisi foi eleita por 367 dos 593 votos. Ela disputou o cargo com o senador Lindbergh Farias (RJ), que recebeu 226 votos, e o militante José de Oliveira, que não recebeu votos.A CNB também foi vitoriosa na eleição entre as chapas, pleito que ocorre separado da eleição do presidente. Com a maioria dos votos, a corrente poderá indicar mais adeptos aos demais cargos da diretoria do partido.
Gleisi deverá liderar o partido por um mandato de dois anos. O principal desafio é de conduzir a agenda política do principal partido de oposição no país, que perdeu força após escândalos de corrupção revelados pela operação Lava Jato.A nova presidente da sigla, inclusive, responde a processo no Supremo Tribunal Federal (STF). Ré na Lava Jato, Gleisi é acusada de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por pedir e receber, segundo o Ministério Público, R$ 1 milhão desviados do esquema na Petrobras.
Gleisi também foi citada por três delatores da Odebrecht. Eles relataram pagamentos feitos a pedido do marido dela, Paulo Bernardo, quando ele era ministro dos governos Dilma e Lula.Os recursos teriam abastecido as campanhas de Gleisi para a prefeitura de Curitiba em 2008; para o Senado em 2010; e para o governo do Paraná em 2014. A parlamentar nega as acusações.
‘Não nos açoitamos’
Em discurso, Gleisi falou sobre as críticas, feitas durante a convenção, à decisão do PT de destacar os êxitos sem reconhecer os erros. “Nós não somos uma organização religiosa, não fazemos profissão de culpa nem tampouco nos açoitamos”, declarou.“Não vamos ficar apontando nossos erros para que a burguesia e a direita se aproveitem disso. Nós reconhecemos nossos erros na prática”, disse a nova presidente do PT. “Mas não teve, na história de 500 anos de país, governos melhores que os do PT”.
Gleisi defendeu um tripé de propostas para encaminhar a agenda do PT: a regulação da mídia e reformas tributária e no sistema Judiciário. “A aristocracia domina o poder público e articula com as elites, representadas pelo poder Judiciário”, criticou.A senadora saiu em defesa de Lula como forma de unificar o partido. Gleisi também sustentou a necessidade de o PT voltar a dialogar com os movimentos sociais, em especial aos grupos jovem, negro e feminino.
“[Durante os governos do PT] ficamos numa relação mais institucional que política com os movimentos sociais. E faltou uma entrada política com os movimentos. Agora é o momento de reaproximação com as nossas bases”, afirmou.
Concorrentes
Os adversários da senadora representavam vertentes mais à esquerda dentro do espectro ideológico da legenda. A chapa de José de Oliveira cobrava uma autocrítica mais profunda. A de Lindbergh apostava em mudanças nas alianças políticas da legenda.O senador derrotado disse que decidiu concorrer à presidência do PT quando a legenda apoiou a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara e a de Eunício Oliveira (PMDB-CE) à do Senado. Ambos compõem a base do governo Temer.
“Eu vi um distanciamento da realidade. É como se a nossa direção não tivesse entendendo o que está acontecendo no país. Depois do golpe, alguém [do PT] pensar em apoiar Rodrigo Maia e Eunício Oliveira”, afirmou.
Briga de militantes
Durante a defesa das chapas concorrentes, militantes de alas divergentes trocaram agressões após uma declaração do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha.“Não somos aqueles que só tem orgulho de ser PT nos tempos bons”, afirmou Padilha, em defesa à chapa de Gleisi e criticando a ala mais à esquerda. Após a fala, Padilha foi vaiado e o clima esquentou entre os delegados. Dois militantes discutiram e chegaram a se agredir, mas foram apartados pelos demais aos gritos de “respeito”.
Poste seu comentário