Por Flavia Lima
As dificuldades financeiras do governo podem ser medidas pelo total de recursos aplicados em títulos públicos. Interrompendo um padrão observado nos seis anos anteriores, a dívida pública cresceu mais de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) desde 2013. Ela saltou de 50,8% no fim daquele ano para 71,4% do PIB em março deste ano, e a parcela da poupança financeira destinada a financiá-la acompanhou o movimento.
Levantamento do Cemec (Centro de Estudos do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) indica que, desde 2014, 60% do fluxo da poupança financeira total, que engloba famílias, empresas, segmentos do setor público e investidores externos, foi para financiar a dívida pública.
TÍTULOS PÚBLICOS – Na carteira total de grandes investidores, como fundos de pensão e de investimento, a participação de títulos públicos passou de 38% em 2013 para quase 50% em 2016.Dos recursos totais captados pelo sistema bancário, nada menos do que 72% são destinados exclusivamente ao financiamento do setor público, por meio de títulos públicos, captações bancárias, títulos adquiridos em operações compromissadas ou empréstimos dos bancos para o setor público. Carlos Antonio Rocca, diretor do Cemec e autor do estudo, diz que, enquanto o governo não equacionar as suas contas, é improvável que os recursos da poupança doméstica deixem de ser direcionados para financiá-lo.
AJUSTE FISCAL – A saída para o imbróglio seria levar adiante um processo gradual de ajuste fiscal, com reformas e controle dos gastos, assim como de recuperação de receitas, diz ele. A crise aguda no campo político, no entanto, torna tudo ainda mais incerto. Do lado do governo, a percepção de que terá dificuldades para tocar a reforma da Previdência afasta a possibilidade de organizar suas contas e elevar sua poupança. Enquanto isso, as empresas temem arriscar a investir. Ainda que o horizonte clareie e os problemas comecem a ser enfrentados, diz Rocca, é bastante improvável que a retomada do investimento ocorra pela via da ampliação da capacidade produtiva, dado o alto grau de ociosidade da economia.
INFRAESTRUTURA – Os investimentos em infraestrutura, no entanto, poderiam liderar esse movimento, dada a carência do país em estradas, portos, linhas de transmissão e ferrovias. Para isso, no entanto, é preciso que o governo reequilibre as suas contas e, com menor necessidade de recursos, abra espaço para a poupança privada chegar lá.
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