Para o economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, é “vital para a democracia” que o Brasil saiba rapidamente se Lula poderá ou não concorrer à Presidência no ano que vem. Se a condenação do ex-presidente pelo juiz Sergio Moro for mantida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região antes da eleição, o petista se torna inelegível.
Gianetti, 60, que foi assessor de Marina Silva (então PSB, hoje Rede) na campanha de 2014 e é muito ouvido no grupo que orbita a ex-senadora, defendeu que a corte tome a decisão ainda no primeiro trimestre de 2018. “A opção é um desastre”, disse.
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Folha – Como o sr. vê o efeito da condenação de Lula na corrida para a Presidência?
Eduardo Giannetti da Fonseca – É muito preocupante institucionalmente. Será ruim para o país, viveríamos uma judicialização total do processo eleitoral. Não vejo cenário pior para o país. Seria um desastre afundarmos a melhor oportunidade de mudança em anos num mar de discussões.
Espero que os juízes do TRF-4 decidam o caso celeremente. Que tenham bom senso e decidam ainda no primeiro trimestre do ano que vem. Seria vital para a democracia. A opção é um desastre.
Mas o sistema favorece a protelação, por meio de recursos.
Por isso espero que os magistrados tenham o bom senso cívico de que não é possível protelar esse julgamento.
Por outro lado, ao defender celeridade não se arrisca o inverso, defender uma politização do Judiciário?
Não se trata disso. Até porque não estou falando de mérito, os juízes que decidam o que for o correto na avaliação deles. Mas é preciso sensibilidade, como por exemplo Moro teve em sua sentença, em não mandar prender Lula.
O presidente do TRF-4 falou em decidir até agosto.
É tarde. A campanha precisa começar com isso resolvido, com ou sem Lula habilitado, para desanuviar o ambiente. O país está numa encruzilhada crítica, vamos nos perder num labirinto se ficarmos sem essa resposta.
Lula diz também que será julgado pelo povo, nas urnas.
Isso é absurdo, mostra como ele se coloca acima das instituições. Infelizmente, Lula acirrou o pior do passado patrimonialista brasileiro.
Sob sua gestão, as grandes empresas colocaram o Estado na folha de pagamento. Esse é o julgamento que a história fará dele.
Quais os cenários possíveis para 2018?
O primeiro cenário é com Lula candidato. A eleição será polarizada entre ele e o anti-Lula, que hoje seria o [prefeito tucano de São Paulo João] Doria ou o [deputado pelo PSC-RJ Jair] Bolsonaro. Nesse caso, será uma campanha rancorosa, envenenada.
Lula terá muita conta para acertar na campanha. E o seu eleitorado estará vingativo.
E a hipótese sem Lula?
É muito mais arejada para o país. Neste caso, haverá uma grande pulverização de candidaturas. Isso seria bom para o eleitorado, nos daria oportunidade de fugir de uma discussão burra e debater temas importantes. E muita gente iria se animar a concorrer.
Joaquim Barbosa [ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e próximo de Marina] se colocou em teste.
Como cidadão torço para que os dois, Marina e Joaquim, estejam juntos, só não sei em que formato, quem encabeçando chapa. Ambos são exemplos eloquentes de pessoas desfavorecidas que abriram portas por meio da educação.
É um sinal oposto ao de Lula, que sempre passou a mensagem de que, se você for esperto, não precisa se educar. Que basta saber driblar. Isso não foi bom para o país.
Mas essa chapa teria viabilidade dentro do sistema eleitoral brasileiro? Mais, teria condição de governar?
Sei que falta solidez hoje. Seria importante cercá-los dos melhores nomes e, já na campanha, promover a ideia de reforma política. Além disso, teriam de enfrentar questões difíceis como a Previdência.
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