Por Pedro do Coutto
Numa entrevista a Mariana Carneiro, Marli Prado e Ricardo Baltazar, Folha de São Paulo deste sábado, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou que o consumo, e não o investimento, puxou a recuperação lenta da economia nos últimos meses, acentuando ter sido interrompido o ciclo de uma profunda recessão herdada pelo governo Michel Temer. A afirmação do presidente do Banco Central impressiona, a meu ver, por sua incursão no reino da mágica, isso porque um alta taxa de desemprego e retração dos salários, como é que o consumo pode subir ao ponto de influir na aceleração da economia? Esta pergunta deve ser respondida prelo autor da tese, que também recorreu à influência do saque das contas inativas do FGTS.
ALGO EPISÓDICO – Mesmo aceitando como válida a explicação, é importante considerar que o saque do FGTS é algo episódico, não podendo, portanto, ser analisado como um fator permanente da recuperação econômica. O próprio presidente do BC sustenta que a confiança na recuperação da economia não tem impulsionado a atividade como se pensava no início do ano. Acrescentou que a capacidade ociosa permanece muito grande e que a economia ainda se recente dos erros cometidos pelo governo Dilma Rousseff. A que capacidade ociosa se refere ele? Não pode ser a redução da força de trabalho refletida na existência de quase 14 milhões de desempregados.
Acrescentou também que a economia se recente do excesso de gasto, de empréstimos e de endividamento das pessoas. Endividamento que, como foi divulgado esta semana, envolve 56 milhões de pessoas. Mas neste ponto mais uma contradição: se houve excesso de gastos, como apresentar positivamente o crescimento do consumo. Mas esta é outra questão. Os gastos do governo são uma coisa. As despesas da população outra. Há que separar os dois planos. Para os gastos do governo tem que se incluir o desembolso com o pagamento de juros da dívida interna.
RECEITA EM QUEDA – Mas as dificuldades não preocupar o presidente do BC. Por falar em banco, uma revelação importante. Reportagem de Eduardo Rodrigues e Idiana Tomzelli, O Estado de São Paulo, também de sábado, destaca a queda da arrecadação de tributo federais no mês de julho. Foi de 109,9 bilhões de reais menor na escala de 0,3% do que a do mês anterior. O principal fator do recuo da receita, incluindo a correção inflacionária, decorre do recolhimento menor do Imposto de renda da empresas, principalmente dos bancos. O recolhimento dos bancos, pela lei, tem base nas estimativas para seus resultados no mês seguinte. Pela retração, parece que as expectativas não são favoráveis. Mas como acreditar nisso se os bancos fecharam seus balanços com lucros muito altos, como foi o caso do Itaú e do Bradesco?
Entretanto como a base do imposto, para eles, está na expectativa, é possível que tais expectativas não se concretizem na prática. Mas valem para o cálculo do imposto a pagar.
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