Por Lucianne Carneiro / O Globo
Um ano depois do julgamento do impeachment do Senado, a inflação mais controlada e os juros mais baixos são os destaques positivos da economia brasileira. A melhora da situação fiscal, no entanto, na qual se apostou no início do governo Temer, ainda permanece um desafio. A aprovação do teto dos gastos, em dezembro, foi avaliada como uma vitória, mas a turbulência política mais recente dificulta o cenário para a aprovação da reforma da Previdência, que abriria o caminho para a redução do déficit fiscal.
A inflação é de longe o indicador com melhor desempenho no último ano, ainda que a alta menor de preços seja explicada principalmente por um motivo não tão nobre: a recessão. O resultado acumulado em doze meses, que era de 8,97% em agosto de 2016, caiu para 2,71% em julho de 2017 — a menor taxa desde fevereiro de 1999, quando chegou a 2,24%.
REDUÇÃO DOS JUROS – Com os preços sob controle, o Banco Central pôde dar início a um alívio na política monetária, com redução de juros. A taxa Selic, que mede os juros básicos da economia, começou a cair em outubro, de um patamar de 14,25% ao ano, está em 9,25% e deve chegar aos 7,25% no fim de 2017.
“Há um ano, a economia já estava em recessão, com desemprego elevado e uma inflação ainda sem sinal de desaceleração. Até pela recessão, a inflação perdeu fôlego, o que permitiu a flexibilização dos juros” — afirma o economista Leonardo Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe do INVX Global Partners, o ano foi de “mudanças rápidas e bruscas especialmente em expectativas”. Ele cita a inflação menor e o ciclo de redução de juros, além da recuperação da Bolsa de Valores: “Os efeitos na economia real começaram a ser sentidos mais recentemente, mas já vemos algum impacto em comércio e serviços e também no mercado de trabalho”.
NÃO HÁ VAGAS – O desemprego é o reflexo mais evidente da crise na vida das pessoas. A taxa disparou ao longo dos últimos meses, ainda que o último dado aponte uma queda, e está quase em 13%. Existem hoje 13,5 milhões de desempregados no país. Há quem já veja sinais de estabilidade no mercado de trabalho, mas há um longo caminho pela frente para a recuperação diante de um contingente tão grande de desempregados. Ao mesmo tempo, a situação fiscal se deteriorou e o cenário imaginado de uma aprovação integral da reforma da previdência parece distante.
Quando a nova equipe econômica assumiu, houve uma reação forte na confiança pelo compromisso com o ajuste fiscal. A orientação do governo ainda é de ajuste, mas a crise política tornou mais difícil a aprovação de medidas e reformas que possam dar um horizonte melhor para a situação fiscal” — diz Leonardo Carvalho, do Ipea.
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