Janot usa oportunidade de acelerar assédios a Temer, Lula e Dilma.
Rodrigo Janot inicia amanhã sua última semana como procurador-geral da República. Embora os indicativos sejam insuficientes para uma ideia do que Raquel Dodge trará ao cargo, a saída de Janot não é inoportuna. Os fatos recentes entre a corrupção organizada e as ações contrárias expõem, no lado judicial da crise, um estado de confusão, de ações atabalhoadas e perda de controle que só um país abúlico, porque irrigado de muita leviandade, poderia tolerar –a preço altíssimo. Vários são os fatores dessa situação desprovida de toda lucidez, e o Ministério Público Federal tem grande parte da responsabilidade na sua criação, permanência e agravamento continuado.
As semanas finais da chefia de Janot são pródigas em novidades perturbadoras. A imunidade plena concedida a Joesley Batista, por exemplo, virou-se contra Janot, e o pasmo generalizado parece tê-lo desestabilizado. Seu tão repetido argumento mais lembrou uma capitulação à exigência do possível delator, descabida mas capaz de saciar a ânsia de procuradores e do próprio Janot por mais processáveis. As gravações de conversas entre Joesley e seu assecla Ricardo Saud deram ao procurador-geral a oportunidade de reverter, ele próprio, o ato com que beneficiou o delinquente e acinzentou seu conceito como procurador-geral. Deixar para que a substituta eventualmente o revertesse seria reprovação ainda pior.
Ou as gravações foram divulgadas com cortes, ou Janot nela viu inexistentes “indícios de atos ilícitos” atribuídos ao Supremo Tribunal Federal e ao Ministério Público. Referências desrespeitosas e, para a ministra Cármen Lúcia, insultuosas, são componentes das boçalidades produzidas a granel como conversa. Mas não que diminuam a instituição Supremo, nem que justifiquem a incitação de Janot e a reação de ministros como a própria Cármen Lúcia, Luiz Fux e, ora ora, Gilmar Mendes. O qual descobriu em Paris que “um dos objetivos” de Janot, nessa encrenca, “era entregar minha [lá dele] cabeça”. “Para vingança política”. Pobre vítima.
Efeito menos onírico foi logo anunciado por Janot: a sustação do acordo de delação, premiada com a imunidade judicial de Joesley. Uff! E, depois de decidido que provas dadas pelo delator continuam válidas, a prisão foi dada como complemento da represália. Duas medidas que se justificam muito mais pelo que foi perdoado, no descritério geral dos “prêmios”, do que pelo punido agora.
Mas, se a validade das provas entregues teve tantos apoiadores, não foi sequer lembrado um outro problema de provas, que se supõe também valiosas contra a engrenagem da corrupção. Suspenso o acordo de delação, Joesley estará desobrigado das entregas restantes, várias, de provas que ficou de buscar. A gravação agora discutida foi apenas a primeira entregue, de quatro horas em que a conversa indignante é só um trecho.
Aliviado do ônus pelo prêmio aos delatores da JBS, Rodrigo Janot dá oportunidade a uma arrumação na sua área, com a distribuição correta de poderes e da limitação de cada um ali, com as necessárias atitudes contra intenções do Ministério da Justiça, ou da Polícia Federal, além do mais. E Rodrigo Janot usa a sua oportunidade, nestes últimos dias poderosos, de acelerar e engrossar os assédios a Temer, Lula e Dilma, não os deixando ao risco de mais diferenças com sua substituta Raquel Dodge.
De nossa parte, apenas continuamos sem ver quem se interesse por desvendar como Antonio Palocci, tão pouco depois de forçado pela segunda vez a sair do governo, apareceu como detentor de um enriquecimento que não quis explicar.
Fonte: Jânio de Freitas – Folha de S.Paulo
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