Josias de Souza

Até amigos de Lula avaliaram que ele errou ao desqualificar tão drasticamente Antonio Palocci no depoimento que prestou a Sergio Moro. No PT, ninguém ignora que Palocci sempre foi um suavizador das necessidades monetárias de Lula. Fora do PT, todos sabem que Palocci era um fiel escudeiro de Lula. Por isso, petistas chegados ao ex-presidente ficaram com a impressão de que, ao pintar Palocci como um mentiroso frio e calculista, Lula condenou-se ao descrédito. De fato, nunca um inocente pareceu tão culpado —ou nunca um culpado pareceu tão inocente.

Petistas que privam da intimidade de Lula acham que, em vez de desqualificar Palocci, o pajé do PT deveria ter recoberto seu ex-ministro de elogios. Na sequência, Lula associaria o desejo de Palocci de se tornar um delator à prisão longeva e a uma hipotética pressão psicológica da equipe da Lava Jato. O efeito seria o mesmo. Com a vantagem de que Lula não precisaria ter cutucado Palocci com o pé, arriscando-se a ser mordido com mais força pelo delator-companheiro.

Apesar do discurso externo, situado em algum lugar entre a vitimização e o triunfalismo, o PT rumina internamente a impressão de que Palocci ficou ainda mais à vontade para contar o que sabe aos investigadores. E ele sabe demais. Já havia declarado diante do juiz da Lava Jato que Lula fizera um “pacto de sangue” com a Odebrecht, que rendeu um pacote de propinas de R$ 300 milhões.

Descobre-se agora, que Palocci já informou em sua proposta de delação que entregou dinheiro vivo a Lula em pelo menos cinco ocasiões. Foram pacotes de R$ 30 mil, R$ 40 mil ou R$ 50 mil. Formalmente, Lula nega. Informalmente, começa a admitir, longe dos refletores, que pode ter subestimado o teor radioativo de uma delação de Palocci. O resultado prático é que a candidatura presidencial de Lula vai migrando rapidamente da condição de “provável” para a de “inviável”.

 

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