Por Carlos Newton
É sempre bom repetir que na política as aparências realmente enganam, quase sempre há necessidade de se fazer tradução simultânea, para situar os fatos de uma maneira mais real. Agora, por exemplo, está ocorrendo um embate entre Rodrigo Maia e Michel Temer. Aparentemente, o atrito entre eles teria como motivo a ação dos ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco para fazer com que dissidentes do PSB deixem de se filiar ao DEM e prefiram o PMDB. Mas na realidade, Rodrigo Maia está usando este argumento para descolar seu partido da órbita do Planalto, já com vistas à sucessão presidencial de 2018.
Faltam apenas duas semanas para se encerrar o prazo de filiação partidária. Quem quiser mudar de legenda para disputar a eleição – não importa o cargo pretendido – tem de se filiar agora, caso contrário terá de ser candidato pelo partido atual. Eis a questão, diria Shakespeare.
DORIA NA PARADA – Não foi por mera coincidência que Temer ligou para Rodrigo Maia na quinta-feira e não conseguiu falar com ele. A desculpa do presidente da Câmara foi de que estava no avião, rumo a São Paulo, com o celular desligado. Se isso foi verdade, por que não retornou a ligação do Planalto após aterrissar?
Aconteceu que Rodrigo Maia foi a São Paulo para jantar com o prefeito de São Paulo, João Doria, e com o prefeito de Salvador, ACM Neto. O prato principal foi a candidatura de Doria a presidente da República, pelo DEM, com apoio de outros partidos e espaço expandido no horário eleitoral.Doria tem duas semanas para decidir a filiação ao DEM, que se tornou sua única alternativa, pois Alckmin, Serra, Aécio e FHC já lhe fecharam as portas do PSDB. É isso que está em jogo.
TEMER CONVIDOU – Há algumas semanas, Temer convidou Doria para se filiar ao partido, mas era uma proposta indecente. O prefeito de São Paulo sabe que o plano de Temer era usá-lo eleitoralmente. Se Doria entrasse no PMDB para disputar a sucessão, seria ilusão à toa, diria Johnny Alf. Na hora H, Temer sairia candidato à reeleição e Doria teria de disputar o governo de São Paulo, atraindo votos para o PMDB, vejam só que jogada inteligente de Temer.
Como se sabe, o PSD vai disputar com Henrique Meirelles, o PDT com Ciro Gomes e não sobra legenda importante para João Doria, porque os partidos evangélicos são incompatíveis com ele, que é católico, frequenta a Paróquia São José, no Jardim Europa, e seu pai foi deputado federal pelo extinto Partido Democrata Cristão.
NOVA POSTURA – Portanto, o que está em jogo no desentendimento entre Rodrigo Maia e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, sem a menor dúvida, não é a filiação dos rebeldes do PSB, mas a própria sucessão de 2018.
Temer logo sentirá a pressão, no exame da segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República contra ele. Na presidência da Câmara, Rodrigo Maia vai deixar rolar, o Planalto não pode contar com ele para nada, rigorosamente nada. Temer deve se safar, mais uma vez, mas seu sonho de se reeleger em 2018 e manter o foro privilegiado dele, Padilha e Moreira, pode se transformar num pesadelo infindável.
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